segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018


12 DE FEVEREIRO DE 2018
CINEMA

Bom elenco e tom de autoajuda


COM JAKE GYLLENHAAL em ótima performance, O Que te Faz Mais Forte prova que bons atores nem sempre são o bastante

É estranho ver o diretor que despontou no começo do século com George Washington e Prova de Amor, dois filmes relativamente pequenos e com pretensões autorais, realizar agora uma espécie de cinema da autoajuda. Essa é a limitação que O que Te Faz Mais Forte não consegue ultrapassar, apesar de apresentar alguns elementos que ao menos o colocam acima de outras tentativas nesse subgênero.

David Gordon Green sempre gostou de correr riscos. Aqui, tenta dar conta de uma história real com altos índices de periculosidade quando passada para um drama cinematográfico: a luta de Jeff Bauman para superar o trauma de ter perdido suas duas pernas numa das explosões no atentado contra a tradicional Maratona de Boston, em 2013.

O próprio Bauman escreveu o livro, com a ajuda de Bret Witter. A adaptação para o longa foi feita por John Pollono, roteirista de parca experiência no cinema. Jake Gyllenhaal assumiu o papel principal, Miranda Richardson interpreta sua mãe, e Tatiana Maslany (de Oprhan Black), a namorada.

Notamos que o processo de adaptação à nova condição é mostrado com um realismo incrível. Vemos a fisioterapia, os cuidados médicos, a tentativa de adaptação com as próteses e as dificuldades na hora de fazer as necessidades básicas com um realismo aflitivo que nos coloca quase na pele de Bauman (ajuda Gyllenhaal estar mais uma vez estupendo).

Bauman tem outros dois problemas. A mãe é alcoólatra e infantil. Quer a todo custo que o filho seja visto pelo mundo como um herói e pensa até em atrair Oprah Winfrey para entrevistá-lo. É um trabalho notável dessa atriz versátil que é Miranda Richardson (em cartaz recentemente no filme Churchill - o outro, não aquele do Gary Oldman), capaz de brilhar em diversos tipos de registro.

A namorada, Erin, sofre com a dificuldade de Bauman em aceitar o que lhe aconteceu, o que é natural, dado o trauma que sofreu. Erin (bom trabalho de Tatiana Maslany) sofre mais ainda no contato com a mãe dele, que não faz nada para ajudar o filho e é hostil a ela.

E, mesmo com a excelência dessas três atuações, a limitação persiste. Mais uma prova da dificuldade de alcançar um bom valor artístico com esse tipo de filme. Falta algo à dramatização que escape de uma estrutura previsível. Falta também um final mais, digamos, cinematográfico. Como a limitação não é ultrapassada, dentro do escopo da autoajuda seria mais eficaz ler o livro do próprio Bauman.

Folhapress - SÉRGIO ALPENDRE

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