sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018


09 DE FEVEREIRO DE 2018
POLÍTICA

OS LEÕES QUE O PIRATINI ENFRENTARÁ A PARTIR DE AGORA


Ter emplacado na Assembleia o projeto de lei complementar que autoriza o Estado a aderir ao regime de recuperação não foi a tarefa principal do Executivo, que busca com o governo federal um fôlego bilionário no orçamento. Embora a aprovação do texto tenha sido um primeiro passo, a partir de agora outros leões aparecerão no caminho. O primeiro a ser encarado se chama Ana Paula Vescovi, secretária do Tesouro Nacional.

Desde as primeiras conversas com representantes do governo do Estado, técnicos do Ministério da Fazenda apontavam problemas que deveriam ser resolvidos. Entre eles, segundo a Lei 159/2017, que versa sobre o acordo, está o patamar de comprometimento com custeio de todos os poderes. Pelos cálculos do Tesouro Nacional, o total de gastos da folha salarial (R$ 18,3 bilhões) e do pagamento da dívida (R$ 1,74 bilhão) chegaria a 57,98% da receita em 2016, enquanto o regime de recuperação fiscal estabelece que essas duas despesas precisariam alcançar no mínimo 70%.

O governo do Estado dificilmente conseguirá transpor problemas técnicos e burocráticos já estabelecidos pela regra federal, mesmo amparado por articulação política do ministro Eliseu Padilha. Quem conhece Ana Paula Vescovi garante que ela "não cruza certas fronteiras" e que está preparada para resistir a pressões típicas de Brasília.

Para assinar o regime de recuperação, conseguir a suspensão do pagamento da dívida e ter a liberdade de contratar empréstimo, o governo do Estado precisa seguir o que diz a lei federal e entregar estatais. As propostas de emenda à Constituição que retiram a necessidade de plebiscito para privatização ou federalização de CEEE, Sulgás e CRM estão trancadas na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia. Mesmo que fossem a plenário, seriam rejeitadas pelos deputados.

Em outra frente, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) estuda ir à Justiça questionar a legitimidade do artigo constitucional da consulta pública - a tese é de que a emenda proposta em 2002 tem vício de origem, porque foi de iniciativa parlamentar e acaba por engessar o Executivo.

Se resolver não ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) com esse assunto, ao Piratini restará oferecer os ativos que não precisam de plebiscito. A Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) está entre as possibilidades. Técnicos avaliam se vale a pena repassá-la inteira ou se compensa mais extingui-la para depois negociar as concessões.

O tempo também está apertado. José Ivo Sartori tem mais 10 meses como governador e, caso queira ser candidato à reeleição, terá de fazer nesse período o que não conseguiu em três anos devido à falta de dinheiro. As poucas obras em escolas de que se têm notícia ainda são de financiamento contratado no governo anterior.

debora.cademartori@zerohora.com.br - DÉBORA CADEMARTORI

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