sexta-feira, 10 de novembro de 2017


Notícia da edição impressa de 10/11/2017. Alterada em 09/11 às 18h10min

Só nos resta viver 

Detalhe da capa do livro REPRODUÇÃO/JC "A vida é bela / só nos resta viver", diz Angela Ro Ro nos versos da canção, e Mario Quintana escreveu "minha morte nasceu quando eu nasci/ despertou, balbuciou, cresceu comigo". Desses versos lembro depois de ler os densos, delicados e profundos poemas do livro mais recente da consagrada e premiada poeta, professora, defensora pública e advogada Maria Carpi, intitulado Tudo o que é belo é efêmero (Modelo de Nuvem, 104 páginas). Maria Carpi estreou com o premiado 

Nos gerais da dor e gosta de desenvolver temas em suas obras poéticas. Em Tudo o que é belo é efêmero, os motes são a morte, o tempo, o amor, a (in)finitude e a constatação de que "nada nos salva de viver". "Entro, pois, moça na velhice", escrito em outro poema, precede outros versos como "chegar é não ter mais bagagens nem datas, para teres a certeza que realmente saíste/ verifica se / ao término, o longe era o ponto de partida". 

Na apresentação, escreve Fabrício Carpinejar: "O que Maria Carpi realiza, com sua intuição prodigiosa e seu estro rigoroso, é uma justiça poética. Ela vinga experiências, justifica emoções, recompõe perdas. Por detrás de arroubos e rompantes, de relâmpagos e versículos, existe uma teoria corrente e refinada: aceitar a transitoriedade é intensificar o esforço de amar. 

Quem se sabe provisório ama mais. Quem se sabe efêmero ama o dobro." Com simplicidade límpida e sabedoria profunda, Maria Carpi nos oferece versos como: "O tempo é uma criança rindo/ de nossa velhice precoce"; "Pedi ao Senhor dos Tempos /encanecido de eternidades / mais um tempo a meu tempo / e quando ele alargou-me / os dias, apenas sentei no alpendre / a escutar as ervas crescendo", ou "a eternidade e o instantâneo / A peregrinação da visão/ e a corça no campo. / Serão os olhos/ que se deslocam /ou a vivacidade da luz/ que se localiza a bale?". 

Entre a vida e a morte, entre o início, o meio e o fim do caminho, entre o silêncio e o verbo, entre o mistério e a revelação, Maria reflete: "Eu agradeço tudo o que não tive. / Tudo o que não tive não precisa ser perdido ou apagado. / Ninguém me arrancará dos braços o que não abracei". Entre as perguntas, as respostas, os mistérios e as luzes da poesia, Maria nos apresenta até mesmo a eternidade do efêmero e, ao final, declara seu amor pela rosa que a sobreviverá, depois do plantio e do replantio, dos sonhos que ficaram em botão e dos amores apenas espinhos. 

Lançamentos 

Médicos italianos no Sul do Brasil 1892-1938 (Edipucrs, 388 páginas), da médica, professora, historiadora e doutora em História pela Pucrs Leonor Baptista Schwartsmann mostra, com profundidade e brilho, que não apenas pobres e analfabetos vieram ao Brasil. Trabalhadores altamente qualificados e indivíduos com talentos especiais vieram e influenciaram na circulação de ideias e conhecimentos. Histórias que os jornais não contam (L&PM, 162 páginas), do médico e escritor Moacyr Scliar, traz 54 crônicas inspiradas em notícias de jornal, extraídas de sua colaboração de quase duas décadas para a Folha de S. Paulo. 

Os relatos partiram de onde a notícias da Folha terminavam e desafiaram a fronteira entre a ficção e a realidade, com o inusitado da vida envolvido pelo encantamento da literatura. Laços de sangue - História secreta do PCC (220 páginas, R$ 44,90), do procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino e do jornalista investigativo Cláudio Tognolli, revela as origens do PCC. 

O grupo foi criado nos presídios de Taubaté (São Paulo) e amedronta o Brasil e países vizinhos com ações envolvendo rebeliões, assaltos, assassinatos, sequestros e narcotráfico. - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/11/colunas/livros/594934-so-nos-resta-viver.html)

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