quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Reação de Kim Jong-un a ameaças de Trump dá abertura a desastre


Se já parece ruim o suficiente o presidente da principal democracia do mundo ameaçar "destruir totalmente" um outro país nas Nações Unidas, a situação ganha em dramaticidade quando os adversários em questão são Donald Trump e Kim Jong-un.

Trump vem recorrendo constantemente à retórica do "cachorro louco", adotada por Richard Nixon nos anos 70 contra o Vietnã.

Mas o então chefe republicano da Casa Branca nunca fez a ameaça de usar armas atômicas, e "destruir totalmente" um país sugere isso, no principal foro internacional da diplomacia.
Eugene Hoshiko/Associated Press
Mulher passa por tela de televisão em Tóquio passando reportagem sobre o discurso de Trump
Mulher passa por tela de televisão em Tóquio passando reportagem sobre o discurso de Trump
Nesse sentido, mesmo sendo uma bravata, é algo sem precedentes. Não menos porque há 1.800 ogivas nucleares de pronto uso à disposição do presidente, que tem sua habilidade para lidar com isso questionada à luz do dia.

É possível argumentar solidamente que a ONU é mais uma obsolescência num mundo de pragmáticos, mas ainda é o que mais se aproxima de um fórum mundial, ao menos nesses momentos mais cerimoniais.

Se é óbvio que uma agressão norte-coreana seria respondida no mínimo com uma ação proporcional dos EUA, o tom belicista de Trump fez lembrar os momentos mais ásperos dos discursos do soviético Nikita Krushchov. Coisa de líder autoritário.

Um parêntese não menos importante foi a tentativa de reativar o velho "eixo do mal" de George W. Bush, com Trump colocando no mesmo pacote de Kim a Venezuela e o Irã —neste último caso, com implicações regionais sérias se a intenção virar fato.

Voltando à Coreia do Norte, o perigo aqui é que, para cada uma dessas bravatas, Kim respondeu com um passo além em seu programa de mísseis e armas nucleares.

Uma hora ele poderá ultrapassar ainda mais as linhas que já violou, e provocar uma reação militar de verdade, com consequências que vão de ruins a tenebrosas.
A península coreana está cercada de forças ofensivas, e Pyongyang vê na destruição de seu regime a razão de ser dessa ameaça.

Num mundo de regras conhecidas, ele usaria seu programa de armas como moeda de troca por sua sobrevivência. Foi assim ao longo das últimas décadas, mas a escalada de 2017 tornou o cenário imprevisível.

Mas um míssil que caia no lugar errado, um navio que acabe afundado ou a comprovação de que já poderá explodir um artefato nuclear atirado contra os EUA, qualquer evento desses está no rol das possibilidades de desastre.
Kim pode, claro, deter seu avanço militar num acordo que envolva China e talvez Rússia também. Até aqui, fez exatamente o contrário.

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