sábado, 16 de setembro de 2017



16 DE SETEMBRO DE 2017
PAULO GLEICH

PSICÓLOGO, PSIQUIATRA, PSICO-QUÊ?


A primeira vez que procurei um psi foi como ocorre com a maioria dos pacientes: estava mal pra dedéu e precisava de ajuda. Totalmente ignorante nesses assuntos e um pouco intimidado diante dessa gente que ganha o pão escrutinando a alma humana, fui atrás da indicação de um familiar que havia feito terapia. Tive azar na primeira experiência - mas, na seguinte, tomei tanto gosto pela coisa que fiz dela meu ofício.

Hoje em dia, os pacientes às vezes me lembram daquele início, onde se quer ajuda, tanto faz de que tipo de psi. A angústia é o melhor motor de uma terapia, pois indica que urge fazer algo - o sol já derreteu a peneira com a qual vinha sendo tapado. Tem quem procure um psi "para se conhecer melhor" mas, ou isso é uma desculpa para esconder de si o verdadeiro motivo da procura, ou o sujeito some assim que se conhece um pouco melhor: de perto, ninguém é normal, nem tão legal.

Se o desespero pode ajudar a iniciar uma terapia, pode também levar a um desastre caso o sujeito caia em mãos, ou melhor, ouvidos errados. Assim como há péssimos taxistas, juízes e manicures, também há psis que deveriam fazer qualquer coisa, menos se ocupar de pessoas em sofrimento. Às vezes, chegam pacientes que precisam ser curados da terapia anterior, na qual uma relação tóxica mais fez adoecer que curar.

Na hora de procurar ajuda, muitos agem como eu lá no começo: conversam com o primo que estuda psicologia, a cunhada que está fazendo terapia. A indicação de alguém dá uma ideia de confiança, já que com um psi se compartilham intimidades que muitas vezes nós mesmos desconhecemos. Há quem procure uma clínica ou faça uma busca por conveniência geográfica ou financeira. São vários os caminhos, nenhum deles com resultados garantidos. Importante é ter em mente que o primeiro tiro pode não ser certeiro, talvez seja preciso consultar outro(s) até encontrar um bom psi.

Mas afinal, qual a diferença entre psiquiatra, psicólogo, psicanalista? Psiquiatra é um médico com especialização em psiquiatria, o único que pode prescrever medicamentos; porém, nem todos fazem psicoterapia. Psicólogo é quem se formou em psicologia, e pode trabalhar com diferentes linhas de terapia, das quais existem dúzias. Psicanalista é quem segue uma prática específica, a psicanálise; para escutar pessoas, passou por uma longa formação, que inclui ter sido também analisado.

Então, não seria melhor consultar logo um psiquiatra, já que se precisar de remédios ele é o único que sabe indicar? Em absoluto. Medicação é necessária em alguns casos, mas um bom psi sabe avaliar e encaminhar a um psiquiatra quando necessário. Com frequência, porém, psicofármacos são dispensáveis e até contraindicados, já que podem, ao mitigar o sofrimento, diminuir a motivação para tratar sua origem - como um analgésico que elimina a dor de dente, mas não resolve a inflamação que o causa.

Claro que, por ser psicanalista, costumo indicar colegas que pensam as dores da alma como as entendo: intimamente relacionadas com o contexto e a história de vida de cada um. No entanto, mais vale ser escutado por um bom psiquiatra ou psicólogo do que por um mau psicanalista. Seja qual for o psi escolher, é importante que se sinta à vontade para falar o que quiser, sem ser julgado por atos ou pensamentos. E desconfie se receber muitos conselhos e orientações: para isso já existem amigos, familiares, comadres e pastores.

PAULO GLEICH

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