sexta-feira, 15 de setembro de 2017



15 DE SETEMBRO DE 2017
CAPA - NATHALIA TIMBERG

Chopin para assistir e ouvir


Nathalia Timberg avisa que não vai representar Chopin como personagem, mas vai dar voz a ele e a outras figuras do romantismo, como o também compositor Franz Liszt e a romancista George Sand. No espetáculo-recital Chopin ou o Tormento do Ideal, que estreia nacionalmente de hoje a domingo no Theatro São Pedro, dentro do Porto Alegre Em Cena, a atriz estará muito bem acompanhada pela pianista Clara Sverner, repetindo a parceria de 33 Variações (2016), em que visitaram Beethoven.

Hoje, a partir das 20h, será realizada a cerimônia do Destaque Panvel Em Cena, que vai contemplar o Projeto Camaleão, a diretora teatral Inês Marocco e o Projeto Pescar.

Atriz

A senhora é uma das maiores atrizes do Brasil, e Clara, uma das maiores pianistas. Como se deu essa parceria?

Ela é extraordinária, ainda mais tocando Chopin. Esse fraseado que ela desvenda, esse dedilhado que ela faz... Tenho que tomar cuidado para não me distrair durante o espetáculo (risos).

A senhora acredita que o público vai descortinar novos aspectos de Chopin?

Acredito que sim. Se essas pinceladas despertarem no público o interesse de saber mais, será uma glória. Na música, o que fala é o discurso do próprio compositor.

Embora parte do público possa ter receio da música de concerto, Chopin é bastante acessível por causa de suas melodias.

Chopin foi tão exclusivo em relação à composição para o piano porque achava que respondia ao seu discurso. Jamais quis se envolver com música sinfônica. Sua obra vem ao encontro de algo de que precisamos muito porque trabalha com a sensibilidade. No Brasil, temos a tendência de confundir sensibilidade com sentimentalismo. É um dos erros até de alguns intérpretes de Chopin.

Muitos atores experientes costumam criticar a falta de bons papéis após determinada idade. Como a senhora vê isso?

Você está usando um eufemismo. Você quer dizer atores idosos. Quando se quer saber algo de um povo, se observa a arte que ele produz. Hoje, o nível de interesse do nosso público está voltado, de modo geral, a outra faixa etária. Então, os autores que se comunicam com uma massa maior procuram ir ao encontro desse interesse. Temáticas sobre relações amorosas, por exemplo, são mais voltadas para essa faixa etária mesmo. Isso se agravou em nossa época menos exigente em relação às discussões.

O Brasil vive uma crise política e moral. Como a senhora percebe essa situação?

No Brasil, a formação (educacional) está totalmente sucateada. Então, o nível de interesse baixa violentamente. Já tivemos um público bem mais interessado em termos de discussão do que hoje.

Qual é o papel dos artistas para mudar o estado de coisas?

O que sempre tiveram. O teatro é o lugar de discussão do homem, tanto que é uma das coisas que mais incomodam quem quer manipular as massas. No momento em que você atua sobre a inteligência e a sensibilidade de um povo, que é o que o artista faz, você está indo além dos panfletos.

Nesse cenário, como encontrar forças para atuar?

Há dois vetores que levam aos palcos. Um deles é mais difundido, infelizmente, que é a necessidade de exibição, em que o teatro é mais uma passarela. O outro vetor é aquele em que o artista busca se expressar com seu trabalho. É o que todos estamos fazendo, talvez como a última forma de viver. Não sei viver sem ter contato com as coisas mais essenciais do meu pensamento. É com isso que o teatro lida. Faço uma diferença entre o teatro e o espetáculo. Todo teatro é espetáculo, mas nem todo espetáculo é teatro.

FÁBIO PRIKLADNICKI

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