terça-feira, 5 de setembro de 2017




05 DE SETEMBRO DE 2017
URBANISMO

Decadência a passos largos

MAIS FAMOSA VIA DA CAPITAL, Rua da Praia enfrenta falta de conservação, invasão de camelôs e problemas de infraestrutura

A mais tradicional via de Porto Alegre sofre com falta de conservação, invasão de camelôs e promessas que não avançam. A deterioração da Rua da Praia se agravou nos últimos anos com a retomada das calçadas pelos vendedores ambulantes e por problemas de infraestrutura como falhas no pavimento. A situação motiva frequentadores e comerciantes a exigir e propor soluções ao poder público para revitalizar a área.

A decadência da Rua dos Andradas, seu nome oficial, foi tema de um texto do colunista David Coimbra publicado ontem. A constatação de desleixo com o antigo cartão-postal é confirmada por quem circula pela região. O corretor de grãos Mário Fonseca, 80 anos, lamenta o destino do local que começou a frequentar há quase sete décadas.

Ainda criança, Fonseca cruzava a Galeria Chaves diariamente para buscar pão para a avó e, com o troco, comprar revistinhas. Mais velho, ele jamais deixou de perambular pela Andradas.

- A gente vinha conversar, ver as moças bonitas. Olha como está isso hoje: uma esculhambação. Já me roubaram dois celulares. Então, agora uso esse aparelho para andar aqui - conta o corretor, mostrando um velho modelo de telefone móvel.

A volta do comércio informal, problema que havia sido resolvido com a inauguração do PopCenter em 2009, é apenas um dos atuais desafios. Com um projeto de revitalização urbana engavetado há quase dois anos, o piso e o sistema de iluminação se deterioram. Perto da esquina com a General Câmara, o pavimento se desfez e restou um buraco com algumas pedras soltas em seu interior. Os postes, velhos, reforçam a impressão geral de descuido.

- Não se via loja vazia na Rua da Praia. Hoje, há espaços à venda ou para alugar. A situação do Centro, somada à crise, assusta alguns investidores - analisa o assessor imobiliário Renan Wagner.

O projeto de revitalização, elaborado pelo município em parceria com entidades como o Sindilojas, deveria ter sido licitado em novembro de 2015, mas até hoje permanece como promessa. Segundo o ex-prefeito José Fortunati, faltaria apenas concluir o projeto executivo para tocar a obra, já que R$ 10 milhões para a reforma estariam garantidos por um financiamento. A iniciativa prevê a troca do pavimento e a substituição da infraestrutura com uso de fiação subterrânea.

NOVOS INVESTIMENTOS APONTAM ALTERNATIVAS

Procurada por ZH, a assessoria de comunicação da prefeitura informou que o projeto de revitalização da Rua da Praia está em análise. Pedidos de entrevista com o prefeito Nelson Marchezan e com o secretário de Planejamento e Gestão, José Parode, não foram atendidos. Parode informou, via assessoria, que poderia se manifestar sobre o assunto hoje.

Mas nem tudo é desesperança no Centro: investimentos recentes como a reforma da Galeria Chaves e a inauguração da loja Lebes Life Store mostram que a região da velha Rua da Praia mantém o potencial.

- Temos de ter cuidado com o saudosismo, mas é possível, sim, qualificar a Rua da Praia. Aumentar o espaço para os pedestres, investir em iniciativas como parklets, melhorar o mobiliário urbano transformaria um espaço de trânsito em um espaço de permanência - avalia o presidente da seccional gaúcha do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Rafael Passos.

marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

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