terça-feira, 31 de janeiro de 2012



31 de janeiro de 2012 | N° 16964
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Bem-vinda

Foi quarta-passada, dia do meu aniversário, de manhã, na Osvaldo Aranha, eu indo para a Reitoria da UFRGS, de carro. Parado numa sinaleira, olho à toa para a calçada: grupo anódino de gente olhando vitrine. Fixo a atenção: são quatro pessoas, homem maduro e três mulheres.

Pai, mãe e filhas? Leem anúncios de apartamentos para alugar. Tem fotos ali. Olho de novo para cada um: o homem, o pai, é quem de fato lê tudo; a mulher, a mãe, olha para ele, interrogativa; uma das gurias, filha mais velha, acompanha o olhar do pai; a outra, mais jovem, abandona aquele assunto e se volta para a avenida. O olhar dessa guria é que é.

Na minha fantasia, tratava-se ali de escolher um apartamento para alugar, porque a filha mais velha passou no vestibular, talvez na UFRGS, um curso ali perto. A família veio do Interior, ainda feliz com o resultado do esforço da filha; está passando uns dias na casa de uma tia, uma prima solícita, que ofereceu a casa para eles virem enquanto ela mesma está na praia. A família precisa de tempo para toda a mudança, que mal começou.

Agora a filha maior vai morar na Capital, cidade grande, misteriosa, que eles conhecem assim de passagem, o pai umas vezes veio ver o Inter, a mãe quase morou num pensionato, as gurias têm pouca intimidade aqui. E a filha universitária vai partir para outros compromissos, viver outros ritmos, ver o que nunca viu, talvez ninguém da família próxima jamais tenha visto. Ela vem conquistar o mundo, que reside aqui, em Porto Alegre.

E a irmã mais nova? O dia era do meu aniversário, logo eu estava com o coração mais disponível para os afetos, posso ter exagerado. Mas, putz, olha ela ali: a cara meio assustada, olhando para... Para o quê? Os carros, sim, as palmeiras, o ar, os prédios, a Redenção, as várias pistas, o tumulto que nem nos afeta mais e que a ela move por dentro e pulsa na garganta.

Ela olha, pensei eu, para a cidade, essa entidade invisível e onipresente. Ela olha e, ao contrário de nossas retinas cansadas, não enxerga apenas os elementos que interessam: ela se chapa com o conjunto, sem encontrar o fio daquela meada, excitada, temerosa, desafiada, apavorada, tudo bulindo os sentidos e os sentimentos.

Eu pensei: “Bem-vinda”. A cidade tem de bom isso, guria: aqui tudo é de todos, ninguém é de ninguém. Entrega a tua história para a cidade, para ajudar a cidade a ser o que ela é; integra a tua vida nesse bololô, vai dar certo.

Não parei o carro, claro. O sinal esverdeou e eu arranquei, o coração apertado. Guria, é o seguinte: a cidade é assim, ninguém vai te dizer direito o que tu queres e precisas saber, nem eu, que vi o teu olhar. Descobre tu.


31 de janeiro de 2012 | N° 16964
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


A dama do elevador

Ohall de entrada do enorme prédio comercial estava repleto de pessoas impacientes com a lentidão dos elevadores. Quando um deles baixou finalmente ao térreo, lotou em segundos. Uma senhora elegante, espremida contra o painel de comando, autonomeou-se ascensorista e perguntou os andares dos passageiros a bordo Comandava segura a viagem quando uma voz se ouviu ao fundo, irada:

– Pó, tu não ouviu que eu ia descer no oitavo?

O reclamante era um galalau decorado de tatuagens e piercings. Um cavalheiro de porte ainda mais avantajado dirigiu-se a ele:

– Não viu que essa dama está nos prestando um favor? Da próxima vez, suba de escada.

O tom foi vigoroso o bastante para que o rapagão se recolhesse à sua pós-moderna insignificância.

Peguei no Centro uma lotação com destino à Rua Dona Laura. Mal transitáramos umas quadras, percebi que estava desapercebido. Por uma distração que acomete os escribas que têm a cabeça na lua, havia esquecido a carteira em casa. Levantei da poltrona, fui ao motorista e confessei-lhe minha absoluta prontidão. Ele sorriu e comunicou-me:

– O senhor é meu convidado neste voo.

Mal havia arrancado o carro, percebi que um dos pneus se achava tão vazio como a cabeça de algumas celebridades. Na véspera, eu participara de um jogo de vôlei, do qual desertei aos cinco minutos, lesionado. Não divisei nas redondezas sombra de um posto de gasolina ou de uma borracharia. Assim que avistou as bandagens que eu ostentava na mão direita, aproximou-se um vendedor ambulante.

– Não há de ser nada, doutor – declarou.

E com a presteza de um mecânico de pit stop trocou o artefato avariado e recusou a nota de 10 que lhe estendi.

Comprei-lhe, em retribuição, um pente de plástico, coisa de centavos.

Por que conto estas historinhas triviais? Porque constatei que há reservas infinitas de solidariedade em uma cidade que muitos definem de desumana. Nesta mui leal e valorosa vivem legiões de pessoas generosas, fraternais, prestativas.


31 de janeiro de 2012 | N° 16964
PAULO SANT’ANA


Sala de espera

Estava eu na sala de espera do gerente do banco. Na minha frente, havia uma mulher muito bonita, de minissaia, com os pés bem situados dentro das sandálias.

Evidentemente que era o gerente que tencionava contrair um empréstimo comigo, com o meu dinheiro indo para o bolso dele. Hoje em dia, os bancos não andam bem das pernas como as mulheres que sentam nas salas de espera do gerente.

Foi quando a mulher que estava na minha frente dirigiu-se a mim: “Todos os dias, eu leio a tua coluna, noto que tens bom gosto a respeito de beleza feminina. É assim que estou agora te fazendo uma pergunta: tu me achas uma mulher atraente?”.

Eu respondi: “Acho-te uma mulher muito atraente”. A mulher então perguntou: “O que achas das minhas pernas?”. Eu então disse a ela que suas pernas eram bem torneadas e que acontecia com ela um fato ímpar: suas belas pernas se harmonizavam com estupendos joelhos, descendo até os pés, que, se não eram belos, feios também não eram.

Foi então que ela me perguntou o que achava do restante do corpo dela e de sua personalidade aparente.

Respondi que ela formava um conjunto seleto de belas atrações, que seus cabelos eram cacheados e sedosos, que seu sorriso era sedutor e a maneira como falava era envolvente.

Expliquei mais, que ela estava sentada e eu não podia fazer uma análise abrangente da sua personalidade corporal.

Ela não se fez de rogada e levantou-se, aflorando então na sala do gerente uma beldade encantadora.

Estávamos ali naquela cena intrigante, com quatro pessoas se deliciando com nosso diálogo.

Quanto mais conversávamos, mais a mulher se mostrava cuidadosamente sedutora. Foi quando fiz a ela a indagação irrenunciável: se ela era casada.

Ela respondeu que não era muito bem casada, mas também não era comodamente solteira.

Eu disse a ela que não ser comodamente casada era um desperdício. E ser solteira era uma promessa alentadora.

Ela adiantou-se e disse que tinha 34 anos e que uma coisa que nunca foi preocupação dela agora vinha sendo: quer ter um filho.

Eu falei para ela que era o momento de ter o filho. Os médicos dizem que as mulheres não podem ter filhos depois dos 38 anos, é temerário.

E ela me perguntou então, como eu sou uma espécie de conselheiro sentimental na minha coluna, se deveria ter esse filho com seu companheiro atual, justamente aquele homem que estava conversando com o gerente dentro da sala, certamente para obter um empréstimo para custear o filho.

Eu lhe disse que tinha que ter o filho preferencialmente com o homem que a amasse, embora isso não fosse essencial. O essencial é que ela viesse a amar o filho com todas as forças do seu coração. Ela me respondeu que, se tivesse o filho, faria questão de que eu fosse o padrinho.

Eu respondi: “Quanta honra me daria. Queria vê-la feliz e realizada com o filho dos seus sonhos nos seus braços”.

Seu marido saiu da sala do gerente e ela se despediu de mim e foi embora.

Fiquei sinceramente cismando se uma grande mulher como aquela não tinha que ter filho nenhum e continuar a passear sua beleza intacta pelas ruas da cidade ou se uma mulher só se realiza realmente quando tem um filho.


31 de janeiro de 2012 | N° 16964
DAVID COIMBRA


Respeite os sinais

Quando uma mulher mia “eu sou muito complicada”, você já sabe o que deve fazer. Saia correndo. Porque ela está dizendo a verdade. E uma mulher complicada só traz isso: complicação. Logo, se você preza uma vida tranquila e sem preocupações, afaste-se desta louca o quanto antes.

Mesmo que ela tenha os tais olhos de ressaca da Capitu, seja lá o que isso for, mesmo que tenha os lábios de bala de goma da Angelina, mesmo que seja sustentada pelas pernas infinitas da Ana Hickmann, mesmo que lhe revista a pele de maciez arrepiante da Megan Fox, mesmo assim, fuja. A não ser que você aceite pagar a excitação com incomodação.

Tenha em mente que certos sinais são eliminatórios. Quando aparecem, são apenas sinais, mas, se você tem experiência, e se com a experiência adquiriu sabedoria, não perca tempo. Haja. Não permita que a situação se agrave, se torne mais complexa e, por isso, mais dolorosa no final. Antecipe o final e diminua a dor.

Sinais.

O Gre-Nal sempre é um sinal. Sou francamente a favor do banimento do jogador ou do técnico que fracassa em Gre-Nal. Refiro-me ao fracasso rotundo, causador de derrota. Esse jogador, no mínimo, tem de passar por um período sabático.

Pode voltar mais tarde, depois de ter se livrado do opróbrio. Tipo o Benítez. Em um Gre-Nal do fim de 77, no Beira-Rio, o Inter entrou em campo todo de vermelho, vistoso e chamejante, e levou 4 a 0 do Grêmio. Benítez era o goleiro, e falhou. A direção ficou de orelhas em pé. Pouco depois, mandou-o para o Palmeiras, por empréstimo. Ele foi, voltou e, em 79, foi campeão do Brasil. O sinal do Gre-Nal foi respeitado. Sinais têm de ser respeitados.

Duralexis

Digamos que D’Alessandro ganhe, com o novo salário, R$ 800 mil por mês. São quase R$ 10 milhões por ano. Ocorre que, se o Inter fosse contratar outro meia, gastaria os mesmos R$ 10 milhões. Logo, o Inter repassou a D’Alessandro o que repassaria a outro clube, ou a um empresário. O dinheiro seria gasto de qualquer forma.

Não foi um mau negócio do ponto de vista financeiro, portanto. Mas essa bolha de fausto e fartura do futebol vai estourar. Não há como não estourar. Aí, só os previdentes sobreviverão.

O tempo urge

Quando Julinho Camargo foi contratado pelo Grêmio, em meio às trepidações de 2011, ele ponderou:

– Tenho tempo, tenho um mês para montar um time.

Na época, lamentei por Julinho e disse que ele estava enganado: tempo não havia. Não houve, como se viu.

Agora, Caio Jr. teceu uma reflexão a respeito do próprio trabalho: avaliou que o time está fazendo progressos e avisou que é assim mesmo, que construirá a equipe gradualmente, mesmo com fracassos.

Caio Jr. está equivocado. Seu tempo está se esvaindo com uma rapidez que ele talvez não tenha percebido. Bem diante dos óculos redondos de Caio Jr. existe inclusive um marco, uma data definida para que seu trabalho frutifique ou não: o próximo domingo.

Se Caio Jr. não se der bem no Gre-Nal, se não conseguir pelo menos empatar o clássico, sua história no Grêmio será breve. Ele poderá até continuar trabalhando no clube por algum tempo, mas estará desacreditado, com a torcida e os dirigentes olhando-o com o nariz torcido, todos na espera de novo fracasso para, aí sim, derrubá-lo.

Menos de uma semana. Esse é o tempo que tem Caio Jr..


31 de janeiro de 2012 | N° 16964
FABRÍCIO CARPINEJAR


Eu já sabia

Teremos sempre gente nos julgando.

Os vizinhos, os parentes, os colegas de trabalho, da academia e do inglês, quem nos tirou no amigo-secreto, quem nos viu no cinema.

Chamados para opinar, vão demonstrar uma intimidade surpreendente.

Não é paranoia, todos só estão esperando que eu faça algo realmente grande para confessar que me conheciam.

E pode ser agradável e pode ser nocivo, não importa, as maçãs podres partilham a cesta com as frutas sadias, o joio e o trigo são irmãos gêmeos, a maldade e a bondade são mais parecidas entre si do que o amor e a amizade.

Diante de uma atitude boa, dirão que já sabiam que eu era sinônimo de retidão.

Diante de um fato ruim, também dirão que já sabiam que eu não prestava.

O sonho da maioria é desfraldar a faixa: “Eu já sabia, Galvão”.

O fofoqueiro deseja ser profeta, pretende dar a notícia em primeira mão seja lá qual for e como for.

Os conhecidos guardam meus antecedentes negativos e positivos numa pastinha na área de trabalho do Windows, prontos para a impressão.

Ao me tornar santo, não será complicado encontrar testemunhas dos meus milagres. Citarão coisas inacreditáveis. Quando pulei o muro de três metros da Escola Imperatriz Leopoldina aos 11 anos e fui suspenso, avisarão que nada me aconteceu porque meu corpo é protegido pelo Nosso Senhor Jesus e que a direção me castigava injustamente e não compreendia meu dom.

Ao me tornar louco, comentarão que o mesmo pulo já dava provas da possessão do demônio, que meu apelido Chuck indicava a liderança negativa na turma, que merecia expulsão da diretora.

De um lado da moeda, a santidade. De outro, a ausência de sanidade. Em ambos, a mesma efígie.

Somos influenciáveis. Há a ânsia em definir o próximo para nos poupar da encrenca de assumir as próprias ambiguidades.

Em caso de me converter num herói salvando criança de atropelamento, a opinião pública tecerá elogios de minha conduta familiar. Lembrará do amor incondicional aos filhos.

Na hipótese de atropelar alguém, o público me enxergará como uma máquina mortífera desde a infância. Desde quando andava de triciclo e amassava formigas. Puxarão os pontos da carteira de habilitação, e o zelador do meu prédio, Carlos, descreverá minhas dificuldades para tirar o carro de ré.

Teremos sempre gente nos condenando. Viver é uma execução sumária.

Certo que, um dia, termino no paredão.

Pelo menos, vou pintando os muros de meu fim. Verdes de esperança.

Mas não faltará amigo supondo que isso é ironia.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012


LYA LUFT*

Compustura e Caldo de Galinha

Vejo no noticioso que estamos em último lugar quanto ao retorno,para cada cidadão, dos gigantescos impostos que pagamos mesmo num cafezinho. Em muitas coisas andamos lá na rabeira do mundo, mas parece que nosso ufanismo continua pulsante.

Vai daí, acompanho meio distraída a celeuma em torno de alguma cena tórrida numa das camas do Big Brother, programa a que assisti há anos, quando ele se iniciava, achando bobamente que aquilo não iria durar.

Depois, vi fragmento e ouvi comentários, o suficiente para notar que a vulgaridade se perpetua e torna sem que se perceba: fica natural. Há quem vá me achar antiquada, alienada, severa.

Não imagino que a gente deva usar saia comprida, manga idem, feito freiras de antigamente. Detesto a antiga hipocrisia em assuntos sexuais. Naturalidade e liberdade são positivas, mas a gente não precisa exagerar... Precisamos, já grandinhas, usar saia tão curta que a maioria fica tentando puxar um centímetro mais para baixo, num desconforto idiota?

Precisamos, homens e mulheres, fingir que sexo é só o que importa, ou em idade avançada expor peles murchas em profundíssimos decotes como se o tempo nos tivesse ignorado? Um pouco de recato é questão de higiene, dia uma amiga minha, jovem e sensata. Mas haja coragem para nadar contra a correnteza, em quase todos os assuntos e modismos deste nosso tempo.

Aí vem o tal programa BBB, que virou manchete, no qual um casal (nada original, pois a isso eu mesma assisti nos primeiros tempos) faz ou finge fazer sexo embaixo da coberta sabendo que é filmado.

Nada novo, isso já se viu ali com alguns parceiros a mais na cama, ou no sofá espiando, pois, se é o olhar voraz do BB que tudo espreita, por que não? Alguém ousou reclamar, mas parece que a maioria achou tudo bobagem, todos estavam gostando, o povo espectador aplaudindo, por que não, por que não?

Afinal, não somos tropicais, liberados, avançados, modernos, embora digam que somos Terceiro Mundo – ou exatamente porque somos? Não sei se progresso se mede pela vulgaridade. Não sei se avanço se calcula conforme a deselegância, e se ascender socialmente implica baixar as calças, levantar a saia, tirar o que sobrou do sutiã. Tenho dúvidas.

Tenho insegurança a respeito do que representam essas drásticas mudanças, do antigo primeiro tímido beijo na boca cheio de encantamento e mistério, e esse ficar atual, muitas vezes ainda na infância, no qual vale quase tudo e meninas engravidam sem saber – e sem saber de quem – nesses falsamente inocentes joguinhos eróticos em salões de festa, quando a luz diminui, ou dentro de piscinas sem adulto por perto, ma com bebida.

Escrevi há tempos dois artigos dizendo que família deveria ser careta: cada dia me convenço mais de que toda a sociedade deveria ser um pouquinho mais careta. Com jovens menos pressionados a enveredar precocemente por uma sexualidade que ainda não é a deles nem psíquicas nem biologicamente.

Com adultos que não precisam inventar uma modernidade fictícia, mas ser amorosos e responsáveis – mais naturalmente alegres, não tendo de se expor de corpo e alma, feito, diz minha amiga Lygia Fagundes Telles, “carne em gancho de açougue”.

Essa aceleração no escrachado, no pretensamente liberado, essa ânsia de ser uma celebridade, de ser notado (não necessariamente amado), essa exigência de ter imediatamente um emprego bom, fácil, muito bem pago, e todas as sensações que o mundo (da fantasia) pode oferecer, depressa, logo, agora, não têm volta.

Pois a construção de uma vida, uma profissão, uma pessoa, importo pouco diante da onde de caricaturas de mulheres, homens ou gays que invade nossas telinhas e respinga no nosso colo. E o mundo gira para a frente. Tudo está virando um grande cenário de reality show?

Que reality, aliás? Pois não me parece que essa seja a realidade concreta. E é isso que alimenta minha esperança de que, apesar de tudo, se afirme e espalhe a velha mania do bom gosto e da compostura, que, como caldo de galinha, nunca fez mal a ninguém.

* Escritora - Tradutora. Colunista da VEJA - Fonte: Revista VEJA impressa, ed. 2254, nº 5 - 01 de fevereiro de 2012.

Por CHARLES DUHIGG e KEITH BRADSHER

Aonde foram os empregos do iPhone


Em feira de empregos no ano passado, a Foxconn Technology, que monta iPhones na China, foi inundada de candidaturas.

Não faz muito tempo, a Apple se gabava de seus produtos serem fabricados nos Estados Unidos. Hoje quase todos os 70 milhões de iPhones, 30 milhões de iPads e 59 milhões de outros produtos que a Apple vendeu no ano passado foram montados em outros países.

Em um jantar na Califórnia em fevereiro do ano passado, o presidente Obama perguntou a Steven P. Jobs, da Apple, por que esses empregos não poderiam voltar para os EUA. "Esses empregos não vão retornar", Jobs teria respondido.

Não é apenas uma questão de os salários fora dos Estados Unidos serem mais baixos. Os executivos da Apple acreditam que a enorme escala das fábricas no exterior, além da flexibilidade, diligência e habilidade industrial dos operários estrangeiros, já superaram tanto suas contrapartes americanas que "made in the USA" deixou de ser uma opção viável para a maioria dos produtos da Apple.

Um ex-executivo descreveu como a Apple pediu para uma fábrica chinesa modificar a produção do iPhone semanas antes de o aparelho chegar às lojas. A Apple tinha modificado a tela do iPhone no último minuto, exigindo uma revisão geral na linha de montagem. Novas telas começaram a chegar na fábrica à meia-noite.

Um chefe de seção acordou 8.000 operários nos alojamentos da companhia, de acordo com o executivo. Cada operário recebeu uma bolacha e uma xícara de chá e, meia hora depois, iniciou um turno de trabalho de 12 horas, encaixando telas de vidro em molduras chanfradas.

"Não existe fábrica americana capaz de fazer algo semelhante", disse o executivo.

A Apple emprega 43 mil pessoas nos Estados Unidos e 20 mil em outros países. Muito mais pessoas trabalham para as empresas para as quais a Apple terceiriza funções: outras 700 mil pessoas trabalham como engenheiras e na fabricação e montagem de iPads, iPhones e de outros produtos da Apple. Mas quase todas elas trabalham para empresas com sede na Ásia, Europa e outros lugares, em plantas das quais todas as companhias de eletrônicos dependem para fabricar seus produtos.

"A Apple é um exemplo da razão pela qual é tão difícil gerar empregos para a classe média nos EUA hoje", disse Jared Bernstein, que até 2011 era assessor econômico da Casa Branca. "Se ela representa o pico mais alto do capitalismo, precisamos nos preocupar."

Histórias semelhantes poderiam ser contadas sobre outras companhias nos Estados Unidos, Europa e outras regiões. A terceirização tornou-se comum em centenas de setores, incluindo a contabilidade, os serviços jurídicos, o setor dos bancos, têxteis e farmacêuticos. Mas, embora a Apple esteja longe de estar isolada nesta tendência, ela oferece uma visão da razão pela qual o sucesso de algumas grandes empresas não vem se traduzindo em número expressivo de empregos no país de origem dessas companhias.

"Antigamente as empresas sentiam a obrigação moral de apoiar os trabalhadores americanos, mesmo quando isso não era a opção financeira mais acertada", comentou Betsey Stevenson, que até setembro passado foi economista do Departamento do Trabalho dos EUA. "Isso deixou de existir. Os lucros e a eficiência falam mais alto que a generosidade."

Executivos da Apple dizem que o sucesso da empresa beneficiou a economia americana, por empoderar empreendedores e gerar empregos. "Não temos a obrigação de resolver os problemas dos EUA", disse um executivo da Apple. "Nossa única obrigação é criar o melhor produto possível."

Conseguindo os empregos

Alguns anos depois de a Apple ter começado a produzir o Macintosh, em 1983, Steve Jobs afirmou que este era "uma máquina fabricada na América". Mas, em 2004, quase todas as operações da Apple eram feitas fora do país.

A Ásia era atraente porque sua mão de obra semiqualificada era barata. Mas não foi isso que levou a Apple a apostar na Ásia.

O foco sobre a Ásia "deveu-se a duas coisas", disse um ex-executivo da Apple. As fábricas na Ásia "conseguem aumentar ou diminuir a escala de produção em menos tempo" e "as cadeias de fornecimento asiáticas já superaram o que existe nos Estados Unidos".

Essas vantagens ficaram evidentes em 2007, assim que Jobs, insatisfeito com o fato de as telas de plástico do iPhone ficarem riscadas, exigiu telas de vidro.

Os fabricantes de celulares vinham evitando usar vidro, havia anos, porque o vidro requer grande precisão no corte e moagem, algo extremamente difícil de conseguir. A Apple já tinha escolhido uma companhia americana, a Corning Inc., para manufaturar vidro reforçado. Mas para descobrir uma maneira de recortar as chapas de vidro em milhões de telas de iPhones seria preciso encontrar uma planta de corte de vidro desocupada, centenas de chapas de vidro para usar em experimentos e um Exército de engenheiros de nível médio.

Então uma fábrica chinesa se candidatou a fazer o trabalho.

Quando uma equipe da Apple visitou a fábrica chinesa, seus proprietários já estavam construindo uma nova ala, "caso vocês nos dêem o contrato", disse o gerente. O governo chinês tinha concordado em subsidiar custos de muitas indústrias, incluindo os dessa fábrica de corte de vidro. Ela tinha um galpão cheio de amostras de vidro disponíveis gratuitamente para a Apple. Os donos disponibilizaram engenheiros a custo quase zero. Eles já tinham construído até dormitórios no local.

A fábrica chinesa ficou com o contrato.

Vantagens chinesas

A oito horas de carro da fábrica de vidro fica um complexo, conhecido como Foxconn City, onde o iPhone é montado. O lugar tem 230 mil empregados, muitos dos quais trabalham seis dias por semana, 12 horas por dia. Mais de um quarto da força de trabalho da Foxconn vive em alojamentos coletivos da empresa, e muitos operários recebem menos de US$ 17 por dia.

Em meados de 2007, segundo o ex-executivo da Apple, depois de os engenheiros da Apple terem aperfeiçoado um método de corte de vidro reforçado para que ele pudesse ser usado na tela do iPhone, os primeiros caminhões carregados com o vidro chegaram à Foxconn City no meio da noite. Foi quando os gerentes acordaram milhares de operários para que montassem os celulares.

Em comunicado à imprensa, a Foxconn Technology contestou o relato do ex-executivo e escreveu que um turno que começasse à meia-noite seria impossível, "porque temos regulamentos rígidos relativos aos horários de trabalho de nossos funcionários". A Foxconn disse que os turnos começam ou às 7h ou às 19h e que os empregados são avisados com pelo menos 12 horas de antecedência sobre quaisquer mudanças na programação. Empregados da Foxconn contestaram essa declaração.

A Foxconn possui dezenas de fábrica na Ásia, no leste da Europa, no México e no Brasil. Ela monta estimados 40% dos eletrônicos para consumidores de todo o mundo, e tem clientes como as gigantes Amazon, Dell, Hewlett-Packard, Motorola, Nintendo, Nokia, Samsung e Sony.

Os executivos da Apple tinham estimado que precisariam de cerca de 8.700 engenheiros industriais para o projeto do iPhone. Os analistas da empresa tinham previsto levar até nove meses para encontrar tantos engenheiros nos EUA. Na China, levou 15 dias.

Vários analistas estimam que, se fossem pagos salários americanos, o custo de cada iPhone aumentaria em US$ 65. Mas fabricar o iPhone no país exigiria muito mais que apenas a contratação de americanos: exigiria transformar as economias nacional e global. Os executivos da Apple acreditam que os EUA não possuem as fábricas e os operários que seriam necessários.

Empregos para a classe média minguam

Eric Saragoza entrou na unidade manufatureira da Apple em Elk Grove, Califórnia, pela primeira vez em 1995, e a fábrica perto de Sacramento empregava mais de 1.500 trabalhadores. Saragoza, que é engenheiro, integrou uma equipe de elite de diagnóstico. Seu salário subiu para US$ 50 mil ao ano.

Alguns anos depois de Saragoza começar no emprego, seus patrões explicaram que o custo de fabricação de um computador de US$ 1.500 em Elk Grove era de US$ 22 por aparelho. Em Cingapura, era de US$ 6. Em Taiwan, US$ 4,85.

Algumas das tarefas realizadas em Elk Grove foram transferidas para o exterior. Depois disso, foi a vez de Saragoza. Um dia em 2002, depois de concluir seu turno, ele foi convocado para uma salinha, demitido e escoltado para fora do prédio da empresa.

Depois de alguns meses, procurando trabalho para sustentar sua família de sete pessoas, Saragoza começou a se desesperar. Então aceitou um emprego para verificar iPhones e iPads devolvidos. Por US$ 10 a hora, sem benefícios, esfregava milhares de telas de vidro. Depois de dois meses ele se demitiu. O salário era tão baixo que valia mais procurar outros empregos.

Uma noite, enquanto Saragoza enviava currículos on-line, do outro lado do mundo uma mulher chegava ao escritório. A funcionária, Lina Lin, é gerente de projeto em Shenzhen, China, da PCH International, que tem contratos com a Apple para produzir acessórios, como os estojos que protegem as telas de vidro do iPad.

Lin ganha um pouco menos do que a Apple pagava a Saragoza. Todos os meses ela e seu marido colocam um quarto de seus salários no banco. "Empregos não faltam em Shenzhen", disse Lin.

Segundo economistas, uma economia em dificuldade pode ser transformada por fatos inesperados. Por exemplo, a última vez em que analistas arrancaram seus cabelos por causa do desemprego nos EUA foi nos anos 1980 e a internet mal existia. O que ainda não se sabe é se os EUA serão capazes de aproveitar as inovações do futuro para gerar milhões de empregos.

Gustavo Cerbasi

Enriqueçamos para o bem de todos

A aparentemente egoística atitude de enriquecer multiplica seus efeitos
em uma sociedade

A crescente educação financeira que vem abraçando a classe média ainda concentra seus esforços em reduzir dívidas, escolher melhor os financiamentos e reduzir gastos supérfluos -isso é previsível, já que passam por aí as principais decisões financeiras da classe média brasileira.

Mas ainda pouco se discute sobre ambição, enriquecimento e independência financeira. Falar sobre enriquecimento ainda é tabu em nossa cultura.

Seria bom mudar isso. Ao buscar sua riqueza e, principalmente, compartilhar com pessoas próximas seus objetivos, você estará não só encurtando o trajeto para alcançá-los como também estará contribuindo para a riqueza de muitas outras pessoas.

Colocando em prática um plano de investimentos, o primeiro efeito será a formação de uma poupança crescente em seu banco ou em qualquer outro investimento.

Quanto mais recursos um banco tiver nas contas de seus clientes, mais fundos terá para emprestar a empreendedores.

Quanto mais poupança, menores serão os juros, pois dinheiro abundante fica mais barato.

E a conclusão é que, quanto mais os empreendedores de um país investem em seus negócios, mais empregos geram e mais riqueza se multiplica.

A aparentemente egoística atitude de enriquecer multiplica seus efeitos em uma sociedade.

No fundo, um país nunca será rico enquanto seus cidadãos não resolverem enriquecer. Pense um pouco mais em você, no futuro de sua família. Pense nas consequências de negligenciar seu futuro. Nas consequências de ser demasiadamente generoso consigo ou com terceiros hoje, comprometendo no futuro sua capacidade de doar e também de viver.

O mesmo vale para as relações de trabalho. Há uma ilusão generalizada criada pelo mundo corporativo, capaz de induzir o trabalhador a acreditar que ele dedica anos e anos de sua vida a uma suposta causa "de mercado".

O profissional moderno trabalha hoje pela carreira, pelo mercado, mas esquece que os maiores interessados em seu sucesso não são seu empregador nem esse "mercado", mas sim sua família.

As pessoas que mais querem o bem do trabalhador abrem mão de sua companhia, de seu papel de pai ou mãe, marido ou esposa, para que se possa ganhar o pão de cada dia.

A ilusão está no fato de o trabalhador ser induzido a acreditar que a empresa é mais importante que ele mesmo. Seria uma atitude muito egoística reconhecer que trabalhamos e ganhamos apenas pelo fato de estarmos enriquecendo os donos das empresas?

Reflita: as empresas não pagam salários por caridade ou generosidade. Pagarão nossos salários enquanto formos capazes de aumentar seus lucros e, quanto mais contribuirmos para esse aumento, mais seremos recompensados.

Essa visão aparentemente egoística das relações de trabalho é, na verdade, uma visão justa e promotora do enriquecimento.

Cada empresário deveria procurar meios de conscientizar seus colaboradores de que o papel do trabalhador nas empresas é aumentar os lucros dos acionistas. Não há nada de errado ou feio nisso.

É justo, pois o acionista, antes de mais nada, é aquele que soube reservar parte de sua riqueza e então colocá-la para trabalhar, contando com terceiros -seus colaboradores- para ter sucesso nessa tarefa.

Uma provável consequência desse desenvolvimento da consciência coletiva seria a inspiração para que cada colaborador pensasse um pouco mais em seu futuro, reservando parte daquela recompensa para formar uma boa poupança e, um dia, montar sua própria empresa -com outros colaboradores trabalhando para multiplicar seu capital.

Uma sociedade com crescimento saudável passa, portanto, pela necessidade de enriquecimento de cada uma de suas partes.

Se as atuais famílias ricas entesourarem seus conhecimentos sobre riqueza, estarão, no mínimo, fadadas à estagnação de seu patrimônio. Valorizar o enriquecimento dos indivíduos é garantir que os negócios de nossos netos continuem prosperando.

GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Como Organizar sua Vida Financeira" (Elsevier Campus).

Lívio Giosa

Menos sacolas, mais lixo nas ruas

As moscas sumiram, pois o lixo orgânico é embalado nas sacolas plásticas; com o seu banimento, veremos lixo pelas ruas ou em caixas de papelão

Quem está com a razão? Os supermercados, os fabricantes, o poder público ou o consumidor?

O debate sobre o acordo do governo com os supermercados a respeito do banimento das sacolas plásticas tem de começar imediatamente e em nome da verdade.

Quais interesses estão realmente envolvidos?

O detalhe é que este acordo voluntário entre o governo e os supermercadistas só atende a um dos lados da balança.

Até agora, parece que os argumentos político e econômico afloram, já que o meio ambiente está só de pano de fundo.

Os supermercados gastam R$ 500 milhões ao ano com as sacolinhas plásticas. Ao tentar bani-las, a pergunta é: eles irão repassar esse custo ao consumidor diminuindo o valor dos produtos?

Esse mesmo consumidor já adquiriu um direito, e agora resolveram tirá-lo sem consultar.

As sacolas plásticas significam somente 0,2% dos aterros sanitários. Elas são muito menos poluentes em todo ciclo de produção e, principalmente, são reutilizáveis.

A questão da saúde pública, pouco abordada neste debate, precisa vir à tona.

Onde estão as moscas? Sumiram, porque o lixo orgânico é embalado nas sacolas plásticas.

Com a operação de banimento, teremos de comprar muito mais sacos de lixo para minimizar este impacto. A conta é simples: em média R$ 75,00 a mais por mês no orçamento doméstico. As classes C, D e E irão aguentar?

Veremos, assim, muito lixo jogado nas ruas ou em caixas de papelão. Vai ocorrer uma ampliação das doenças infecciosas.

Por outro lado, já que o governo, tão cioso pela causa ambiental, entrou nessa história, há uma questão básica a abordar.

Só em São Paulo, mais de 100 mil trabalhadores, direta ou indiretamente, perderão seus empregos.

O governo, como instituição imparcial e isenta, deveria, minimamente, ouvir o conjunto da sociedade envolvida. Assim, além dos citados no início do artigo, os trabalhadores necessariamente teriam que participar do debate.

Diante de tal situação, porque os deputados estaduais não propuseram audiências públicas para coletivizar o debate e tirar conclusões mais imparciais?

Cabe aqui, portanto, algumas conclusões e proposições, diante do cenário que se apresenta:

1) Os interesses econômicos e políticos envolvidos nesta questão estão acima do ambiental;

2) O governo de São Paulo deveria sugerir um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) para definir uma ação conjunta entre os envolvidos e chegar a um acordo que possa satisfazer, a médio prazo, o interesse comum da sociedade;

3) A educação ambiental para o consumo responsável deveria ser o objetivo indutor que formaria a consciência e a sensibilização de todos, voltados para práticas sustentáveis e que relevem o consumo consciente.

Aí sim, ajustados à causa e com imparcialidade, a sociedade e os herdeiros do futuro sustentável agradecerão.

LÍVIO GIOSA, 59, administrador de empresas, é vice-presidente da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), coordenador do Ires (Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental) e presidente do Cenma (Centro Nacional de Modernização Empresarial)


30 de janeiro de 2012 | N° 16963
ARTIGOS - Bruna de Mello Vicente*


Tentativa de igualdade

Fiquei estarrecida com os comentários na reportagem de ZH sobre o novo sistema de seleção de cotistas para ingressar na UFRGS. Sou negra e passei em Medicina na UFRGS pelas cotas para negros de escolas públicas. Admira-me que pessoas que tenham estudado História para passar no vestibular critiquem as cotas.

Será que não estudaram que, quando houve a Lei Áurea, os negros ficaram sem emprego e indenização por todos os anos de trabalho forçado e de torturas, ou que grande parte dos imigrantes europeus ganhou terras para morar e trabalhar, ao contrário de nós?

Segundo dados da Síntese dos Indicadores Sociais 2010 feitos pelo IBGE, três quartos dos 10% mais pobres são negros. Pesquisas mostram que até hoje alguns negros que têm o mesmo emprego de brancos ganham menos que estes. As desigualdades ainda existem. Afinal, não é fácil mudar mais de 300 anos de História com apenas 123.

Há algo que muitas vezes esquecemos: as universidades públicas não foram criadas para que pessoas sem condições de pagar um curso superior possam se qualificar? Então, por que vestibulandos de escolas particulares estão reclamando?

Em vez deles, não deveríamos nós, alunos de escola pública, sem renda suficiente para pagar uma universidade particular, pedir maior reserva de vagas? Nem todos que estudam em escola particular têm condições de pagar um curso superior. Muitos estudam lá com bolsas e outros com o esforço de seus pais.

Como os meus, que batalharam para pagar cursinho para eu passar em uma universidade federal, pois não teriam condições de pagar um curso superior. Porém, sabemos que muitos estudantes de escolas particulares têm condições de pagar sua faculdade e estão tirando vagas daqueles que estudam em uma escola pública porque seus pais não podem pagar por sua educação e acabam com um péssimo aprendizado, pois todos nós sabemos que nosso ensino público é muito inferior ao ensino particular.

As pessoas não podem continuar criticando as cotas sem levar em consideração a educação pública brasileira e as condições de índios e negros neste país. Não seria a favor delas se todos vivessem de maneira igualitária, com direitos, condições sociais e raciais iguais e sem preconceitos.

Contudo, nossa sociedade não é assim e, enquanto ela não for uma sociedade igual, cotas terão que continuar existindo para tentarmos obter um país sem diferenças sociais.

*Estudante

Ótima segunda-feira e uma excelente semana pra vc


30 de janeiro de 2012 | N° 16963
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


Ribamar

Este Ribamar de que falamos é o título de um belíssimo livro de José Castello, saído pela Bertrand do Brasil. O autor é um dos mais importantes intelectuais da cena literária brasileira, e eis que isso é pouco, pois o adjetivo “literária” é muito restrito para designar uma obra que passa pela crítica, pelo jornalismo, pelo ensaísmo, pela crônica e, em grande estilo, pela ampla reflexão artística.

Com sua dicção mansa, José Castello nos convence de seus juízos sem apelar para teorias ou modelos interpretativos, e assim ele se insere numa importante vertente da crítica literária brasileira, aquela que situa a obra dentro de um quadro maior e ancorado no tempo e no espaço. Mas José Castello, com sua inventividade, é também romancista, e premiado em certames dos mais prestigiados, como o Jabuti – que não lhe falhou no livro de que nos ocupamos.

Ribamar, se quisermos – e não queremos – reduzir a um breve conceito, seria o romance da paciência. A paciência já começa pelo tempo de escrita que, parece, levou uns quatro anos inteiros.

É preciso que o livro decante, que as palavras se acomodem umas às outras. É o romance da paciência, também, porque tratar de uma relação pai e filho, ainda que no plano ficcional, é preciso muito tempo, o tempo para desfazer as amarguras e as incompreensões. O autor, que assume um narrador em primeira pessoa, cita Kafka, especialmente o Kafka do Carta ao Pai, obra que tem um extraordinário papel no romance.

Acompanhamos, com alvoroçada parcimônia – passe a contradição –, o crescer do filho à medida em que entende melhor o pai, ou melhor, sai à busca dos elementos para entendê-lo, o que o leva a um labirinto em que não há um minotauro à espera, mas uma figura humana a ser discutida, detestada e amada.

A percorrer os vários capítulos, há fragmentos de uma mesma canção versada em fragmentos do pentagrama, escrita numa linguagem redonda, infantil, que era a canção Cala a Boca, que lhe cantava o pai.

A linguagem, por ser de um filho, sempre terá um timbre de dependência, mas que é capaz de dizer, de maneira comovente, referindo-se à relação com o pai: “Talvez eu tenha escolhido armas inadequadas, como um boxeador que, ao subir ao ringue, em vez de vestir luvas, porta um sabre”.

Belo, sim – e terrível. E apenas um grande livro é capaz de dizer tudo isso.


30 de janeiro de 2012 | N° 16963
PAULO SANT’ANA


Farsa bem armada

Ao meio-dia de ontem surgiu a informação decepcionante: D’Alessandro permanece no Internacional.

Foi um golpe de mestre do argentino. Deixou a torcida colorada nervosa com a possibilidade de sua saída, levou até o fim a expectativa, enquanto negociava com os dirigentes do Internacional um volumoso aumento de salário.

Obteve o aumento, fica em Porto Alegre, onde já está ambientado. É sempre difícil arranjar uma babá para os filhos na China, sua esposa iria encontrar um ambiente desconhecido e uma língua intraduzível. Foi muito melhor permanecer a uma hora de viagem de Buenos Aires e com os bolsos cheios de dinheiro.

Pior que a expectativa dos torcedores do Internacional foi a dos torcedores do Grêmio.

Dizia-se que a proposta dos chineses era irrecusável, e nós, gremistas, tínhamos razões de sobra para esperar um ótimo desfecho, que não veio.

Parece que vamos ter de aguentar mesmo até a inauguração da Arena o futebol lúcido e construtivo de D’Alessandro ao lado dessa potência física que não envelhece chamada Guiñazu.

Resta ao Grêmio esperar com paciência que D’Alessandro e Guiñazu envelheçam e a disputa Gre-Nal volte então a ser parelha.

D’Alessandro foi perfeito em sua estratégia. Tinha ouvido o estádio colorado inteiro gritar para que ele ficasse, mas mesmo assim não confirmou, astuciosamente, sua permanência.

É lógico, faltava o acerto com o Internacional. Os torcedores colorados saíram do Beira-Rio com uma dupla frustração: vitória insuficiente por 1 a 0 contra o Once Caldas, que deverá decretar a desclassificação vermelha, e as declarações lacônicas de D’Alessandro, dando a entender que iria embora.

No entanto, D’Alessandro jogava com maestria, queria arrancar mais dinheiro do Internacional, o que conseguiu afinal. O ralo 1 a 0 aterrorizou Giovani Luigi, que cedeu ao argentino e estará pagando agora a D’Alessandro o maior salário que já se pagou em todos os tempos a um jogador no RS.

Golpe de mestre de D’Alessandro. Os argentinos são mestres em negociar com os brasileiros, fazem de nós o que bem entendem, tomam o nosso dinheiro e juram que sempre amaram o Brasil e o clube brasileiro por que jogam.

Tudo bem para os colorados, que vão ficar com o jogador, embora tenham de pagar os tubos.

Mas, e para nós, gremistas, que ficamos torcendo uma semana para o D’Alessandro ir embora, o que nos restou?

Uma profunda decepção e mais uma vez uma roupa e nariz de palhaço diante dessa farsa talentosamente armada pelo D’Alessandro.


30 de janeiro de 2012 | N° 16963
L. F. VERISSIMO


Na minha opinião

O Espião que Sabia Demais é o título bobo de um bom filme. Mas um comentário que ouvi na saída do cinema diz tudo: “Não entendi nada, mas adorei”. É daqueles filmes em que a interpretação de alguns atores, a atmosfera, a fotografia etc. dispensam a compreensão. Você não precisa entender para adorar. Tudo é para ser subentendido, e este é um dos seus atrativos.

Mas quem não quer que o subentendido seja tão “sub” assim talvez saia do cinema frustrado. Desafio qualquer um que viu o filme a dizer o que, exatamente, incrimina o “mole”, ou a toupeira plantada pelos soviéticos no Serviço Secreto britânico que George Smiley acaba desmascarando. Ou então isto está explícito no filme e eu é que perdi. Nunca se deve descartar os devaneios, ou a burrice, de um crítico.

Quem não se contenta em gostar sem entender pode preparar-se antes de ver o filme. Fazer uma espécie de curso de iniciação à trama. A melhor opção seria ler o livro do John Le Carré no qual o filme é inspirado. Le Carré também costuma ser elíptico quando poderia ser direto, mas no livro não há dúvida sobre a armadilha que montam para enredar o espião. Quem não puder ler o livro pode procurar a série feita pela BBC, com Alec Guinness no papel de George Smiley.

Serviria como uma introdução ao mundo de Smiley e o desenlace seria suficientemente claro para você depois poder aproveitar o filme atual sem se preocupar em entendê-lo. Só que aí teríamos outro problema. A BBC e Alec Guinness fizeram a adaptação definitiva de Le Carré e do seu improvável herói. Nas comparações, O Espião que Sabia Demais perderia feio e nem um ator com a qualidade de Gary Oldman se salvaria. Depois de Alec Guinness, qualquer outro George Smiley é certamente um impostor.

As duas melhores versões para o cinema de livros do Le Carré, na minha opinião, são a primeira, O Espião que Saiu do Frio, com Richard Burton dirigido por Martin Ritt, e A Casa da Rússia, com Sean Connery dirigido por Fred Schepisi, que, além da beleza da Michelle Pfeifer como a russa cujo encanto é mais forte do que qualquer lealdade ou ideologia, tem a beleza da música de Jerry Goldsmith. O Jardineiro Fiel, do nosso Fernando Meireles, foi uma tentativa respeitável. O terceiro lugar é dele.

O quarto, vá lá, é de O Espião que Sabia Demais.

Mudos

Não sei se O Artista merece toda essa festa. É um filme agradável e curioso com alguns bons achados, mas a novidade se esgota em pouco tempo. E ele tem um precursor que, se não era muito melhor, foi o primeiro com a mesma ideia, o Filme Mudo, do Mel Brooks. A melhor piada do Brooks: só um personagem fala em todo o filme – o mímico Marcel Marceau. As melhores piadas de O Artista são do cachorro.

domingo, 29 de janeiro de 2012


Ferreira Gullar

Nasce o poema

Em "O Formigueiro", eu queria expor o "cerne claro" da palavra, materializado no branco da página

Não vou discutir se o que escrevo, como poeta, é bom ou ruim. Uma coisa, porém, é verdade: parto sempre de algo, para mim inesperado, a que chamo de espanto. E é isso que me dá prazer, me faz criar o poema.

E, por isso mesmo, também, copiar não tem graça. Um dos poemas mais inesperados que escrevi foi "O Formigueiro", no comecinho do movimento da poesia concreta.

É que, após os últimos poemas de "A Luta Corporal" (1953), entrei num impasse, porque, inadvertidamente, implodira minha linguagem poética. Não podia voltar atrás nem seguir em frente.

Foi quando, instigado por três jovens poetas paulistas, tentei reconstruir o poema. Havíamos optado por trocar o discurso pela sintaxe visual.

Já em alguns poemas de "A Luta Corporal", havia explorado a materialidade da palavra escrita, percebendo o branco da página como parte da linguagem, como o seu contrário, o silêncio.

Por isso, diferentemente dos paulistas -que exploravam o grafismo dos vocábulos, desintegrando-os em letras-, eu desejava expor o "cerne claro" da palavra, materializado no branco da página.

Daí porque, nesse poema, busquei um modo de grafar as palavras, não mais como uma sucessão de letras, e sim como construção aberta, deixando à mostra seu núcleo de silêncio.

Mas não podia grafá-las pondo as letras numa ordem arbitrária. Por isso, tive de descobrir um meio de superar o arbitrário, de criar uma determinação necessária.

Ocorre, porém, que essas eram questões latentes em mim, mas era necessário surgir a motivação poética para pô-las em prática.

E isso surgiu das próprias letras, que, de repente, me pareceram formigas, o que me levou a uma lembrança mágica, de minha infância, em nossa casa, em São Luís do Maranhão.

A casa tinha um amplo quintal, em que surgiu, certa manhã, um formigueiro: eram formigas ruivas que brotavam de dentro da terra.

Eu ouvira dizer que "onde tem formiga tem dinheiro enterrado" e convenci minhas irmãs a cavarem comigo o chão do quintal de onde brotavam as formigas. E cavamos a tarde inteira à procura do tesouro que não aparecia, até que caiu uma tempestade e pôs fim à nossa busca.

Foi essa lembrança que abriu o caminho para o poema, mas não sabia como realizá-lo. Basicamente, eu tinha as letras, que me lembravam formigas, mas isso era apenas o pretexto-tema para explorar a linguagem em sua ambiguidade de som e silêncio, matéria e significado. Que fazer então?

Como encontrei a solução, não me lembro, mas sei que não surgiu pronta, e sim como possibilidades a explorar.

Tinha a palavra "formiga", que era o elemento cerne. Experimentei desintegrá-la -numa explosão que dispersou as letras até o limite da página- e depois a reconstruí numa nova ordem: já não era a palavra "formiga", e sim um signo inventado. Foi então que pensei em grafar as palavras numa ordem outra e que nos permitisse lê-las.

Em seguida, surgiu a ideia mais importante para a invenção do poema: constituir um núcleo, formado por uma série de frases dispostas de tal modo que as letras de certas palavras servissem para formar outras. Nasceu o núcleo do poema, a metáfora gráfica de um formigueiro.

Ele surgiu da conjugação das seguintes frases: "A formiga trabalha na treva a terra cega traça o mapa do ouro maldita urbe".

Construído esse núcleo, o poema nasceu dele, palavra por palavra, sendo que cada palavra ocupava uma página inteira e suas letras obedeciam à posição que ocupavam no núcleo. Desse modo, a forma das palavras nada tinha da escrita comum. Não era arbitrária porque determinada pela posição que cada letra ocupava no núcleo.

"O Formigueiro" foi, na verdade, o primeiro livro-poema que inventei, muito embora, ao fazê-lo, não tivesse consciência disso.

Chamaria de livro-poema um tipo de criação poética em que a integração do poema no livro é de tal ordem que se torna impossível dissociá-los.

Nos livros-poemas posteriores, essa integração é maior, porque as páginas são cortadas para acentuar a expressão vocabular. O livro-poema é que me levou a fazer os poemas espaciais, manuseáveis, e finalmente o poema-enterrado, de que o leitor participa, corporalmente, entrando no poema.

José Simão

Ueba! O periquitério da Dilma!

E sabe o que um amigo gritou quando viu a nova presidente da Petrobras? "O Brasil entrou em guerra?!"

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Novidades no periquitério da Dilma! Sabe como se chama a mais cotada pra ser a chefe da Secretaria da Mulher? Inês PANDELÓ! Vai tratar as colegas a pandeló!

E eu tô louco pra ver o pandeló dela. Rarará! E sabe o que um amigo gritou quando viu a nova presidente da Petrobras? "O Brasil entrou em guerra?!" Rarará!

E o predestinado do dia! Olha o nome de um chaveiro em Aracaju: Hugo Chaves! E a previsão da mãe: "Meu filho, você vai se chamar Hugo Chaves, e vai ser chaveiro ou presidente da Venezuela".

E esta de Balneário Camboriú: "Prefeitura resolve parto de égua. Égua que pariu um potro em plena via pública foi recolhida pela Inclusão Social". Por isso que a Dilma é tão popular: tão incluindo até égua.

E eu já disse que a Dilma bateu recorde de popularidade porque esse é o Ano do Dragão. E aquele assessor com um cigarrinho na mão: "Presidenta, tem fogo?". "Tenho". "Então cospe aqui". Rarará!

E sabe o que os moradores de Pinheirinho cantavam enquanto apanhavam da PM? "Ai, ai, assim você me mata!". Avisa pro Alckmin que a polícia de São Paulo parece polícia de ditador árabe!

E o Kassab? O Kassab foi ovacionado no aniversário de SP. Tacaram ovo nele. E subiu o colesterol do ovo. E como escreveu um sujeito no meu Twitter: "Que desperdício e que puta sacanagem com a galinha, que fez a maior força pra botar".

E o BBB? O "Big Bagaça Brasil"! Por que os caras, aqueles rinocerontes tatuados, ficam gritando "obrigado, Brasil"?. Eles deviam era gritar: "DESCULPA, Brasil". E adoro os collants das BBBs. São tão colados que as pererecas ficam em alto relevo! Rarará!

E aquele surreality show da Band, o "Mulheres Ricas"? Devia era se chamar "Vergonha Alheia"! Quando aquelas mulheres abrem a boca, quem fica com vergonha sou eu! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é lúdico! É que, em Palmas de Monte Alto, na Bahia, tem a pousada Camarada - Dormitório e Namoratório. Adorei o namoratório! Rarará! E se você fosse um ovo, que fim você preferiria: frito, cozido ou estourado no Kassab? Estourado no Kassab. Atirado pela Narciza!

E comer fora em São Paulo tá tão caro que os garçons deviam apresentar a conta com meia na cabeça e luvas pra não deixar impressão digital. Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza. Que vou pingar o meu colírio alucinógeno!

simao@uol.com.br

Danuza Leão

Juventude, velhice

Com algum cuidado com a vaidade e a sorte de ter uma boa saúde, os anos passam e a vida (quase) não muda

Vi na Folha, terça-feira última, um belo caderno especial com o nome "Sem medo de envelhecer", e como costumo me meter em coisas para as quais não fui chamada, vou dar minha opinião.

Só que, sinceramente, não conheço bem o assunto. Vivo da mesma maneira que vivi a vida inteira; quase nada mudou. Deixei de fazer alguma coisa que fazia antes? Poucas, que não me fazem falta (a natureza é sábia), mas sei que fiquei mais impaciente com as pessoas. De resto, tudo igual, praticamente.

Tenho observado que, dependendo do país, a velhice é encarada de maneira diferente. Na Europa, por exemplo, não se refere a uma pessoa dizendo que ela é velha -nem jovem; essas palavras não são usadas quando se fala sobre alguém, seja homem, seja mulher. Ao falar, eles podem dizer eventualmente "deve ter em volta de 50" (ou 60, ou 70), e só.

O Brasil é difícil para quem não é mais uma gatinha -com os homens é diferente, é claro-, e a cada ano surge uma "safra" nova, palavra, aliás, bem deselegante; quando um novo verão se anuncia, algumas, que conseguiram alguma notoriedade no anterior, pela beleza, pelo frescor da juventude, deixam de ser famosas. Só permanecem na crista da onda as que têm um algo mais.

Com algum cuidado com a vaidade e a sorte de ter uma boa saúde, os anos passam e a vida (quase) não muda.

Todos podem -e devem- continuar trabalhando, indo à praia, viajando, dançando, comendo, bebendo, namorando, e muitos são mais felizes do que na plena juventude.

Porque sabem o que querem, não perdem tempo com o que não interessa; as mulheres, como já não têm tantas ilusões, sabem que podem ser felizes sem a necessidade de um amor, um companheiro, um marido; um homem, enfim.

Se encontrarem, ótimo, mas quando olham para trás e lembram do quanto sofreram quando se acharam apaixonadas -um homem era necessário para que uma mulher pudesse existir-, devem pensar: "ah, quanto tempo perdido".

Hoje, homens e mulheres numa faixa de idade mais alta podem fazer tudo o que querem, sem precisar nem mesmo de um amigo/a, porque são mais seguros, coisa que ninguém é quando jovem. A não ser quando desistem e passam a viver não suas próprias vidas, mas as dos filhos, e depois, as dos netos. Aí é a aposentadoria da vida, uma escolha pessoal.

A cultura brasileira é cruel no quesito idade. Dizer que uma pessoa é -ou parece- jovem é um elogio, e chamar de velho é uma maneira de insultar, geralmente usada quando não encontram outra coisa para dizer àqueles de quem não gostam, com quem não concordam.

A rigor, o assunto nem deveria existir -a não ser, é claro, para ajudar os que não podem viver com independência, precisando de cuidados especiais, o que pode acontecer com gente de qualquer idade, gente que teve a má sorte de ter problemas de saúde.

Nessa minha última viagem, percebi que em Paris, por exemplo, ninguém é apontado como gay; que seja um homem (ou mulher) que tem relações amorosas com pessoas do mesmo sexo, disso não se fala -tanto como não se fala se alguém é jovem ou não. As pessoas são como são, e ninguém perde tempo "carimbando" ninguém; simplesmente não tem importância.

Mas aqui, ai da mulher que é ou foi bonita, quando os anos vão chegando. Essas não são perdoadas, e a idade que têm é assunto de discussão, se têm dois anos a mais ou a menos.

Por isso, resolvi aumentar a minha, e se me perguntam, digo que acabei de completar 91 anos; assim, corro o risco de ouvir um "mas que incrível, não parece", o que é sempre bom de ouvir.

E como estou saindo de férias, mando um beijo e até março.

danuza.leao@uol.com.br

Eliane Cantanhêde

No devido lugar

BRASÍLIA - O porta-voz do Irã, Ali Akbar Javanfekr, disse que Lula "está fazendo muita falta", e o chanceler do Reino Unido, William Hague, desconversou sobre uma possível mediação do Brasil na Síria, no Irã e no conflito Israel-Palestina.

Javanfekr lamenta que o Brasil não seja mais um amigão. Hague, de certa forma, coloca o país no seu devido lugar. Em ascensão, mas sem essa de potência mundial.
Dissemina-se assim para além das fronteiras brasileiras a percepção de que algo muda na política externa, mas a guinada é de tom e de estilo. O Brasil, porém, não está virando as costas para a "esquerda" e a política Sul-Sul para priorizar a "direita" e o Norte. Tenta apenas recuperar uma diplomacia mais recatada e reequilibrar as alianças.

Dilma fala pouco, mas diz o que quer. Preferiu o Fórum Social em Porto Alegre ao Fórum Econômico em Davos, concedeu visto para a oposicionista cubana Yoani Sánchez e vai nesta semana a Cuba encontrar-se com Raúl e (talvez) Fidel Castro.

Ela não vai condenar publicamente a morte de mais um dissidente do regime mas também não vai tapar a boca, os olhos e os ouvidos, fingindo que nada aconteceu -como Lula, que confraternizou com Fidel às risadas justamente no dia em que um outro opositor morreu por greve de fome.

O mais provável é que converse reservadamente com os Castro tanto sobre presos políticos quanto sobre a autorização para a blogueira Yoani sair do país e vir ao Brasil. Ela tem cacife para isso. O comércio com Cuba cresceu 31% em relação a 2010 e atingiu US$ 642 milhões em 2011.

A viagem a Cuba pode ratificar uma política externa menos ideológica, não partidária e sem ranços contra EUA ou pró Venezuela.

O desafio de Dilma agora é evitar uma política externa excessivamente cautelosa, corrigindo o que andava errado sem perder as inegáveis conquistas da era Amorim. É, aliás, o que ela tenta fazer na política interna.

elianec@uol.com.br

Carlos Heitor Cony

Um mundo que acabou

RIO DE JANEIRO - Alguns leitores reclamam que eu confesse nada saber de nada, e, apesar disso, dar palpite sobre vários assuntos. Pensam que se trata de um charme hipócrita e inútil, dou de barato que todos têm razão. Mesmo assim, enquanto a lei, a ordem e a polícia não me proibirem, continuarei na minha.

Não sei se alguém está entendendo o que se passa com a economia mundial. O que vejo e ouço todos os dias é que tudo está na pior, países sólidos, referência para os demais, atravessam crises dramáticas, as perspectivas de crescimento diminuem e aumentam os números de miseráveis e desempregados.

Pelo que deduzo, após a Segunda Guerra Mundial, quando todos esperávamos a reentrada da humanidade no paraíso do qual fora expulsa por causa de uma maçã, houve a tal reunião de Bretton Woods, que deu as linhas básicas para a economia de uma era de paz e prosperidade.

O que havia de melhor foi adotado pelos cérebros mais geniais da época. Houve a criação da ONU, que substituiria a fracassada Liga das Nações, e logo depois vieram o Banco Mundial, o FMI e outras instituições para garantir a operacionalidade da economia mundial.

Em 1944, Bretton Woods levou em conta um mundo que não existe mais. Novos países apareceram nos mapas, outros sumiram, as prioridades mudaram, os recursos também. A tecnologia fez avanços consideráveis, se o general Patton tivesse um iPhone igual ao de qualquer bancário ou estafeta de Brás de Pina, ele teria tomado Berlim, o que impediria a União Soviética de dividir o mundo durante a Guerra Fria

As maravilhas daquela conferência estão ultrapassadas. É necessário que alguém -que não seja eu- repense a economia mundial em face das novas realidades que a política e a tecnologia criaram.

sábado, 28 de janeiro de 2012



29 de janeiro de 2012 | N° 16962
MARTHA MEDEIROS


Fakebook

O Facebook tem rendido muitas risadas entre mim e minhas amigas. Temos um grupo que se reúne com certa frequência (da maneira antiga: ao vivo), e volta e meia surge o assunto. Claro que todas estão na rede social, com exceção de duas. Duas mulheres de Neanderthal, entre as quais, eu.

Antes não estávamos no Facebook porque não nos fazia a menor falta, masagora não estamos porque virou questão de honra. Tem sido uma diversão resistir à insistência de quem alega que estamos “fora do mundo”.

A Danuza Leão afirma, em seu último livro, que é um mico a gente tornar público que não entende nada de rede social. É mais moderno dizer que está por dentro, mesmo que não saiba ligar um computador. Ai, Danuza, tarde demais. Já pendurei na parede meu diploma de pré-histórica. Tenho mestrado e doutorado em alienação virtual.

O que não me impede de estar no Face. Não, não estou me contradizendo, tenho uma meia-dúzia de perfis na rede. Se você procurar, vai encontrar gente que extrai frases das minhas crônicas e faz uma gentil colaboração, melhorando- as, e também gente que se faz passar por mim, trocando ideias com seus adicionados como se fosse eu.

A generosidade desse pessoal não tem limite. Antigamente, isso seria considerado crime, agora está enquadrado como “homenagem”. Eu agradeço pra quem?

“É uma terrível calamidade, para uma época, não saber mais a quem estimar.” Essa frase eu não tirei da internet, e sim de O Eterno Marido, de Dostoievski, livro escrito em 1869, quando, por incrível que pareça, eu ainda não era nascida. E você, está seguro de que seus estimados são realmente quem dizem ser?

O Facebook é uma ferramenta dinâmica, agregadora, mobilizadora e tornou o e-mail obsoleto. Pena que possua algumas contraindicações, como, por exemplo, fazer com que não sejamos mais donos nem da nossa memória. No último encontro com as amigas, fomos às gargalhadas por causa de uma discussão a respeito de uma moça chamada (vou trocar o nome dela para manter sua privacidade, espero que ela não me processe por isso) Zezé Velasques.

Segundo minhas amigas que estão no Face, Zezé diz ter sido minha querida amiga do colégio. Eu nunca fui colega de nenhuma Zezé Velasques, esse nome nunca constou da minha agenda de telefones, nunca colei uma prova dessa menina, tenho certeza de que nunca disse nem oi para qualquer Zezé Velasques, mas há quem diga que estou delirando, que claro que fui colega dela no Anchieta, onde, segundo também dizem, estudei a vida toda, mesmo que no meu histórico escolar conste que dos 6 aos 17 anos eu tenha sido aluna do Bom Conselho.

Em quem acreditar? Não olhe pra mim, há muito que deixei de apitar na minha própria história.

Aqui, de fora do mundo, meu beijo pra Zezé e pra todos que ainda conseguem lembrar dos amigos sem a ajuda de aparelhos.


29 de janeiro de 2012 | N° 16962
ARTIGOS - Marcos Rolim*


Três desafios na segurança

O PM aposentado Carlos Vinicius Silvestre foi baleado na cabeça em um assalto a uma padaria na Restinga. Pelas informações disponíveis, foi executado quando estava no chão e não oferecia qualquer resistência. Falamos, então, de conduta infame, marcada pela covardia e esperamos que a polícia consiga identificar o responsável, colhendo as evidências que amparem a necessária condenação. Não apenas porque é necessário punir o autor, mas também porque é preciso neutralizá-lo, de forma a impedir que volte a matar.

A tragédia deve, não obstante, para além das providências legais, atualizar vários desafios. Entre eles, cito três:

1) o que deve ser feito para garantir maior segurança aos nossos policiais civis e militares?

2) o que fazer para amparar os familiares desses profissionais em casos de morte violenta ou invalidez?

3) como desenvolver políticas públicas eficientes para reduzir a violência e inibir os caminhos que formam pessoas capazes de matar mesmo quem não lhes oferece resistência?

Cada uma dessas questões encerra enorme complexidade. Mas é preciso assinalar que nenhum policial estará minimamente seguro se seus direitos fundamentais como cidadão não forem assegurados pelo Estado. Isto envolve várias providências, a começar por uma política salarial que garanta – especialmente aos subordinados não oficiais e não delegados – a imprescindível valorização profissional; além de uma política de formação e de defesa dos direitos humanos dos policiais que lhes assegure amparo psicossocial e que os proteja nas corporações diante de eventuais posturas humilhantes e/ou arbitrárias, normalmente amparadas por noções deturpadas de hierarquia e disciplina.

Quanto ao apoio aos familiares dos policiais vitimados, lembro que o RS possui legislação única no país – a Lei nº 11.314, de 20 de janeiro de 1999, que “dispõe sobre a proteção, auxílio e assistência às vítimas da violência” e que inclui medidas de apoio aos familiares de policiais, agentes penitenciários e monitores da então Febem (atual Fase). Resultado de projeto de minha autoria, a lei – sancionada pelo governador Olívio Dutra – nunca foi aplicada.

Por fim, sobre os esforços de prevenção à violência, um dos temas mais importantes e urgentes à espera de política pública inovadora foi tratado pela excepcional série de reportagens publicadas por Zero Hora na última semana sobre os egressos da Fase.

As evidências colhidas pelas matérias falam por si só: o sistema que temos de execução de medidas socioeducativas em meio fechado é não apenas ineficiente, mas – ao que tudo indica – contraproducente. Ele piora o prognóstico dos adolescentes privados de liberdade, agenciando o agravamento dos perfis infracionais e a reprodução ampliada da própria violência. É hora de mudá-lo.

(marcos@rolim.com.br)


29 de janeiro de 2012 | N° 16962
VERISSIMO


O homem que voa

Geraldo e Marina estão casados há 15 anos. Uma noite os dois sentados no sofá da sala assistindo à novela Geraldo diz:

– Marina, preciso te contar uma coisa.

– O quê, Geraldo? – Eu voo.

– Você o quê, Geraldo?

– Eu posso voar. – Que loucura é essa, Geraldo?

– É verdade. Descobri quando eu tinha uns 11 anos. Se eu quiser, posso sair voando agora mesmo.

– Geraldo, para de dizer bobagens e deixa eu assistir à novela.

– Você não acredita? Então olhe só.

E Geraldo decola do sofá, dá algumas voltas por dentro da sala, sai pela janela aberta, circunda o prédio da frente, volta e senta de novo no sofá.

Marina desmaia.

Já restabelecida, Marina pergunta:

– Por que você nunca me disse nada? Por que esperou até agora para me dizer?

– Eu queria ter certeza que o nosso casamento era sólido. Que você não se apavoraria com a revelação, que acabaria se acostumando com ela. Achei que depois de 15 anos não havia mais perigo de você sair correndo.

– Mas você nunca falou pra ninguém que pode voar? Nunca contou?

– Não. Na escola, eu já era meio esquisito. Se descobrissem que eu também voava, não iriam largar do meu pé. Meus pais também se assustariam. Você é a primeira pessoa a saber.

– Mas Geraldo... Todos precisam saber que você voa. Você é um fenômeno da Natureza! Um caso único. Tem que ser examinado pela Ciência...

– Deus me livre.

– Nós podemos ganhar dinheiro com isso. Você virará uma celebridade internacional. Se apresentará em shows. Já posso até ver você chegando no palco pelo ar e...

– Tá doida. A coisa que eu menos quero no mundo é atrair atenção.

– Quando é que você voa? – pergunta Marina.

– Às vezes, de noite, quando você está dormindo, eu saio pela janela e sobrevoo a cidade. Com a lua cheia, é bonito.

Marina (sentida):

– E você nunca pensou em me levar junto para passear ao luar, como o Super-Homem fazia com a mocinha no filme... Geraldo! E se você for o novo Super-Homem?! Um Super-Homem de verdade? Você pode ser o herói que o mundo está esperando.

– Eu, Super-Homem, com esta cara, com este físico, com esta gastrite crônica? Não, obrigado. Prefiro continuar como técnico contábil, com a minha vidinha de sempre.

– Mas Geraldo...– E você tem que jurar que não vai contar pra ninguém, Marina. Jura.

– Está bem, Geraldo. Eu juro.

E os dois continuam com a vidinha de sempre. De vez em quando, ela faz um pedido, como:

– Bem, uma lâmpada do lustre queimou. Você pode trocar pra mim?

E o Geraldo voa até o teto, muda a lâmpada do lustre e volta para o sofá. E os dois continuam vendo a novela.


29 de janeiro de 2012 | N° 16962
PAULO SANT’ANA


A espera

A vida não passa de uma sucessão muitas vezes irritante de esperas.

Espera pelo ônibus, espera pelo elevador, espera pelo metrô, espera por aumento de salário, espera por melhor emprego, espera pela ansiada felicidade.

Quantas e quantas vezes me apanho esperando que me venha o sono à noite e, quando perco o sono pela madrugada, fico esperando que o sol desponte para que chegue o horário de vir trabalhar.

Todos nós esperamos por dias melhores, esperamos que cesse esse azar desgraçado que já há meses não se cansa de nos sufocar com incessantes coisas que não dão certo.

Espera por casar, espera por ter filho, espera que às vezes dura décadas para adquirir a casa própria, espera que a mulher venha algum dia a cessar essas suas ondas caudalosas de mau humor, espera que o marido venha um dia a se tornar mais delicado, mais cordial, mais afetuoso.

Espera para que a filha se forme no colégio ou na faculdade, espera que um dia sucedam ao administrador do edifício, e o atendimento aos condôminos seja mais atencioso.

Espera que o nosso patrão ou superior reflita que foi muito duro e demasiadamente severo conosco na última vez que nos convocou para uma conversa e que se normalize logo a seguir essa relação fundamental.

Tudo é espera, até a espera de que volte a esperança.

Espera de que cessem as doenças e as que nos atacam agora se suavizem.

Espera que surja um grande amor, irrompendo das brumas da solidão e do abandono.

Espera que volte a saliva, o paladar e o apetite que foram surripiados pela radioterapia. Espera que possa haver a reconciliação para o lamentável atrito que se teve com o amigo, com o filho, com o funcionário da garagem.

Não há outra solução que não sejam as frequentes e infalíveis esperas.

A espera é um ato tão peculiar na vida humana, que chegaram até a criar salas de espera nos consultórios médicos, além da espera nas filas de consultas e cirurgias do SUS.

E vá espera nas filas dos bancos, espera angustiante por uma promoção no emprego, espera por um prêmio na loteria, espera infindável que a situação no país melhore.

Estamos condenados às esperas. Basta ter vida para ter espera, esperar é um sinal forte de vida.

Levamos nove meses esperando por nascer: para esperar também. Levamos a vida inteira esperando para morrer.

E nem os mortos deixam de esperar, talvez pelo Juízo Final.

E às vezes somos ainda ameaçados violentamente de que não vamos perder por esperar.


Sociedades poligâmicas são mais violentas, diz pesquisa

Segundo pesquisadores, a adoção da monogamia diminui competição entre solteiros e reduz as taxas de estupros, sequestros e homicídios

Cena de 'Big Love', extinta minissérie da HBO sobre um clã polígamo. Para cientistas canadenses, esse tipo de relação acirra tensões e gera violência (Reprodução/Nova Temporada)


Como seria o mundo se a poligamia fosse a regra? Segundo um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, o mundo seria mais violento, com altas taxas de estupros e homicídios.

A pesquisa, que acaba de ser publicada na revista Philosophical Transactions of the Royal Society, afirma que a monogamia se tornou a regra em quase todas as culturas do planeta justamente por evitar problemas que se tornariam crônicos em um sistema em que as pessoas têm mais de um cônjuge.

POLIGAMIA

É a união reprodutiva entre mais de dois indivíduos de uma mesma espécie. Entre os humanos, já foi a regra. O Velho Testamento faz várias referências ao assunto. O personagem Jacó, por exemplo, teve duas esposas e 12 filhos, que teriam dado origem às doze tribos de Israel.

Ainda é praticada no Oriente Médio e em partes da África e da Ásia, além dos Estados Unidos, onde seitas fundamentalistas, não reconhecidas pela organização principal da religião mórmon, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, permitem o casamento poligâmico.

Regulamentada pelo Alcorão, é relativamente comum no mundo islâmico, apesar de estar perdendo adesão. O profeta Maomé chegou a ter 16 esposas, mas hoje o permitido são, no máximo, quatro. Foi proibida no Nepal em 1963, na Índia, parcialmente, em 1955, na China em 1953 e, no Japão, em 1880. Nunca foi permitida no Brasil.

A maioria das civilizações já permitiu alguma forma de poligamia em determinado momento de sua história. Invariavelmente, a prática beneficiava (e ainda beneficia, onde ela é vigente) os sujeitos mais poderosos, que podem sustentar mais esposas. Esses fatos intrigaram os pesquisadores, que acabaram concluindo que o bem estar social motivou a institucionalização da relação monogâmica.

"Nosso objetivo foi entender a razão de o casamento monogâmico ter se tornado a regra na maioria das nações desenvolvidas nos últimos séculos, já que historicamente a maioria das culturas praticou a poligamia", afirmou Joseph Henrich, professor de antropologia cultural.

A razão, descobriu o estudo, é a estabilidade social que a monogamia traz, um contraponto às altas taxas de crimes como estupros, sequestros, roubos e homicídios das sociedades poligâmicas. Para os pesquisadores, grupos de homens solteiros são os responsáveis por crimes desse tipo.

"A escassez de mulheres disponíveis aumenta a competição entre os solteiros", afirma Henrich. Como o número de homens e mulheres é parecido, mesmo com uma pequena maioria de mulheres, se alguns homens casam com várias mulheres, outros ficam sem nenhuma.

O maior ganho evolutivo da monogamia, conforme a pesquisa, é garantir uma distribuição igualitária de casamentos. Com a diminuição no foco da competição, as famílias podem gastar mais tempo fazendo planos, produzindo riqueza e investindo na educação dos filhos. Além disso, a menor competição aproxima a idade média de maridos e esposas, o que faz com que a mulher ganhe poder de decisão no casamento.


28 de janeiro de 2012 | N° 16961
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Contos Tradicionais - 2ª Parte

Éfora de dúvida que Charles Perrault influenciou os irmãos alemães Jacob Grimm (nascido em 1785) e Wilhelm Grimm (1786) homens de maior erudição e inteligência que o poeta francês. Os Grimm, cultos como eram, deram sempre importância aos contos, perceberam a sua imanência, rastrearam as suas origens até a Índia, num pan-arianismo que era cultural e não racista.

Além de acrescentarem contos que Perrault desconhecia, os Grimm publicaram versões em alemão de contos que por serem comuns à toda Europa já haviam aparecido na publicação de Perrault.

As versões em alemão não eram cópias servis das versões francesas, porque isso não existe no folclore, onde quem conta um conto aumenta um ponto, mas insisto na semelhança das versões de Perrault, dos Grimm e das nossas, gaúchas e campeiras: ponto para a imanência e para a perenidade do folclore.

Em 1954/1955, me tornei assistente do Dr. Carlos Galvão Krebs, emérito folclorista gaúcho, que me ensinou o que sei e através de quem privei com homens notáveis, como Câmara Cascudo, Alceu Maynard de Araújo, Aires da Mata Machado Filho, Veríssimo de Melo e Edison Carneiro.

De maneira geral, nós acreditávamos, graças a uma suposta didática do folclore, que havia um “folclore nocivo”, o qual não podia ser levado às crianças, porque falava em violência, morte, antropofagia e palavrões. Hoje eu sei que estávamos errados. Não há folclore nocivo. Há o folclore e o não-folclore. Ainda mais, como seriam nocivos estes contos tradicionais, destinados precisamente às crianças, ingênuas e puras atuais?

Waltdisneysear estes contos para expungir seus aspectos “nocivos” é errado. Os contos falam desde sempre em mortes, pais soltando os filhos famintos no mato para as feras comerem, bruxas más e antropófagas e madrastas cruéis. E daí?

O mundo ainda hoje está cheio de maldade e violência. É “positivo” mentir para as crianças, contar que só existem fadas bondosas e príncipes belos, se elas vão crescer e ver a verdade? E não é melhor que elas saibam que existe maldade no mundo pelo amor filtrado na voz do pai, da mãe, da avó?

Ainda hoje e cada vez mais os pais estão soltando Joãozinhos e Mariazinhas na selva escura e perigosa das cidades, para que não morram de fome em casa, embora possam ser devorados pelas feras dos becos, das praças, dos desvãos das pontes.


28 de janeiro de 2012 | N° 16961
NILSON SOUZA


Sr. Ciático

Depois de seis décadas de cambalhotas, futebol, corridas e má postura, fui apresentado para um certo senhor Ciático, do qual só tinha ouvido falar superficialmente nas aulas de anatomia do meu antigo curso de Educação Física ou pelo relato de terceiros. Todos falavam muito mal dele.

Diziam que era terrível, que pegava as pessoas pela coluna e as torturava da forma mais cruel e impiedosa. Confesso que nunca dei a devida atenção a esses relatos, pois raramente consideramos a dor alheia na sua devida dimensão.

Mas o indesejado das gentes foi chegando sorrateiro e instalou-se entre a L5 e a S1, que na linguagem do esqueleto significa quinta vértebra lombar e primeiro segmento da região do sacro – aquele rabinho que herdamos dos nosso ancestrais símios.

Na verdade, o ciático sempre esteve no seu lugar, cumprindo a sua nobre função de levar as ordens de movimento para as articulações e músculos dos membros inferiores. O que despertou sua fúria foi a hérnia de disco situada no ponto referido.

Bom, chega de lero-lero pseudocientífico. O que quero dizer é que dói muito, uma dor incessante, terrível, desconcertante, inimaginável para quem nunca a sentiu. Parece que não vai terminar nunca. Passei vários dias sem caminhar, sem estender a perna, sem ao menos ser capaz de vestir as meias sozinho.

Para quem sempre foi metido a atleta, não poderia haver maior desespero. Meu desconforto só não foi maior porque sempre encontrei apoio afetivo e profissional.

Está sendo um doloroso aprendizado. Uma vez fiquei preso no elevador. Durou apenas alguns minutos, mas a sensação de prisão e sufocamento quase me deixou em pânico. Desde então, sempre que falta luz, corro até o elevador para ver se ninguém ficou preso. Agora, tenho certeza, passarei a prestar mais atenção nas dores alheias.

Pois é justamente por isso que resolvi compartilhar esta experiência pessoal com os meus leitores. Sejam vocês jovens ou maduros, atletas ou sedentários, prestem atenção no conselho da minha fisioterapeuta:

– Sente sobre os ísquios!

Significa sentar ereto, com o peso sobre aqueles ossinhos mais salientes da região glútea – e não escarrapachados sobre o sacro, com a coluna torta, como costumamos fazer no sofá de casa.

Se você não fizer isso, o sr. Ciático te pega. E ele é pior que o bicho-papão.


28 de janeiro de 2012 | N° 16961
PAULO SANT’ANA


O nosso querido aeroporto

Voltemos à questão do aeroporto Salgado Filho, levados por uma resposta do superintendente a uma crítica desta coluna sobre os preços que se cobram no estacionamento no local.

Eis a resposta e depois novas críticas: “Prezado Sant’Ana. Como um leitor assíduo de sua coluna em ZH, acompanho as diversas questões polêmicas do Estado através da tua abordagem, onde o espírito jornalístico se destaca ao garantir espaço para cada um dos lados apresentar a sua versão.

Porém, ao ler a sua coluna de hoje (24.01) intitulada ‘Cocaína no volante do táxi’, notei a questão levantada sobre o preço cobrado no estacionamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, o qual tu defines como imoral. Visto isso, gostaria de lembrar que no início deste ano, mais precisamente no dia 3/01, atendendo a solicitação dos passageiros e usuários, uma nova administradora assumiu o estacionamento de veículos do aeroporto de Porto Alegre (RS).

Com a concessionária, foi lançada uma nova tabela de preços, pela qual na primeira meia hora são cobrados R$ 5, na primeira hora R$ 8 e na segunda hora R$ 10, valores razoáveis, como mencionado na coluna. Além disso, foi providenciada uma adequação nessa nova tabela, em que a cada hora adicional será acrescentado R$ 1 em cima do valor fixo, o que proporciona um preço correspondente ao praticado no mercado.

Desde já, ficamos à disposição para qualquer dúvida sobre o assunto em pauta. (Ass.) Jorge Herdina, superintendente do Aeroporto Internacional Salgado Filho”.

Ótimo, senhor superintendente. Mas eu perguntaria a Vossa Senhoria se não tinha de ser levada em conta, para a cobrança do estacionamento, a característica do local, onde passageiros que vão embarcar deixam seus carros no estacionamento por vários dias e retornam de suas viagens sem qualquer contemplação a esse prazo longo a que são submetidos. Um desconto, uma consideração com esse fato seria merecida aos passageiros, senhor superintendente. Eu sei que é uma questão de mercado, mas a peculiaridade do aeroporto, com estacionamento por vários dias tinha de ser levada em conta para atenuar o preço opressivo.

Mas tem mais sobre o aeroporto, senhor superintendente. Constatei pessoalmente que a única pizzaria do local não obedece a horários rígidos, frequentemente no início da manhã ela permanece irritantemente fechada, o que acontece também no horário de fim de noite, ficando os passageiros famintos, não tendo a quem recorrer, eis que o horário das outras lancherias também é desorganizado.

Além disso, observe a péssima comida que é servida a preço salgado no restaurante do local, no bufê se pode notar quase todos os dias a massa exposta fria, quando se sabe que espaguete e talharim frios, sem estarem quentes, são intragáveis. Corrija isso, senhor superintendente, estou falando em nome de leitores que reclamam acerbamente contra esses defeitos.

E finalmente vamos à questão dramática da farmácia. Aquilo que há no aeroporto não é farmácia. Cerca de 80% dos remédios que os passageiros solicitam não existem na farmácia.

É grave isso, senhor superintendente, as pessoas vão viajar com a certeza de que comprarão seus remédios no aeroporto e trombam com a falta deles. É grave porque, encerradas no aeroporto, não mais têm onde adquirir seus medicamentos. A farmácia parece estar falida de tantos remédios que faltam.

A intenção desta coluna não é outra senão regenerar com urgência os serviços de um aeroporto que se diz internacional e serve pizzas e outros lanches em horários sazonais, isso é inadmissível.


28 de janeiro de 2012 | N° 16961
DAVID COIMBRA


Guiomar não existe mais

Hoje dificilmente você encontrará uma Guiomar. Se encontrar, será bem velhinha. As mulheres não se chamam mais Guiomar, nem Dagmar, como a daquela música de João Bosco & Aldir Blanc, “O Rancho da Goiabada”, que diz que os boias frias, quando tomam uma birita, espantando a tristeza, sonham com bife a cavalo e batata frita.

A verdade é que a mulher do Didi chamava-se Guiomar, e era uma linda mulher – nos anos 50, mulheres lindas podiam se chamar Guiomar. Essa em questão era uma cantora de certa fama. Trabalhava vestida de odalisca num programa apresentado pelo Ary Barroso, que, naturalmente, tinha uma queda por ela. Quando Didi casou-se com Guiomar, Ary compôs um samba, “Risque”, pedindo, despeitado, que ela riscasse o nome dele de seu caderninho de endereços.

O Didi a que me refiro é o jogador, não o amigo do Dedé.

Acontece que Didi já era casado e tinha filhos, quando enamorou-se de Guiomar. Deixou a primeira família, constituiu uma segunda e causou escândalo no país. Mas ninguém o incomodou muito, porque ele era craque. Meia-direita de passe escorreito e lançamentos de 50 metros, bicampeão do mundo em 58 e 62, estava um único nível abaixo dos imbatíveis Pelé e Garrincha. Nelson Rodrigues chamava-o de “Príncipe Etíope”, tal a sua elegância. Neném Prancha disse sobre ele:

– Quem vê o Didi na rua, sem nem saber de quem se trata, logo pensa: “Aquele crioulo deve ser um troço na vida”.

Era.

Em 59, Didi foi contratado pelo Real Madri, que pretendia montar o melhor time de todos os tempos com ele mais o argentino Di Stéfano e o húngaro Puskas, que já estavam lá. Mas Didi fracassou no Real e, um ano depois, já vestia de novo a camisa listrada do Botafogo.

Puskas disse que Didi não deu certo no Real por ter engordado com a boa comida europeia, mas, lá da Espanha, Guiomar escrevia artigos para os jornais brasileiros acusando Di Stéfano de boicotar o seu marido, tudo por inveja vulgar. Foi tão enfática, Guiomar, que vingou essa versão. Di Stéfano tornou-se persona non grata para os brasileiros da época. Muitos até o acusavam de ser um simpatizante do ditador Franco, o que, aliás, era verdade.

Seja como for, o fato é que Guiomar sempre cuidou dos interesses de Didi. Era ela quem negociava os seus contratos e fazia eventuais reivindicações aos dirigentes dos clubes em que o marido jogava. Era correspondida. Na Copa de 1954, os jogadores ficaram confinados à concentração.

Naquele tempo, não havia celular nem internet. Didi queria ligar para Guiomar, os dirigentes da então CBD não deixavam. Didi fez greve de fome. Meio fajuta, é verdade, porque Nilton Santos levava-lhe comida escondido, mas fez.

Em 1958 a coisa foi mais grave. A Seleção estava treinando no Maracanã, quando, de repente, Didi deu um grito de horror:

– Perdi minha aliança!

O treino parou. Ele caiu de quatro na grama:

– Ninguém se mexe! A Guiomar vai ficar uma fera!

Num instante, todos, Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Zito, Belini, Zagallo, todos aqueles craques num instante puseram-se de gatinhas e passaram a vasculhar cada palmo do campo de cem metros de comprimento. Não acharam. À noite, Didi pediu:

– Acendam os refletores!

E os refletores se acenderam para que ele seguisse na busca. Vã. A aliança não foi encontrada. Mas o desespero de Didi parou nas páginas dos jornais e, no dia seguinte, alguém foi avisá-lo:

– Dona Guiomar está lá fora, querendo falar com o senhor.

Didi foi, não sem algum temor a lhe amolecer as pernas. Encontrou a mulher sorridente e emocionada:

– Te vi de quatro no jornal, procurando pela nossa aliança. Achei lindo. Vamos comprar uma mais bonita ainda!

Mandava muito, a Guiomar. Lembrei dela quando soube das notícias do casamento do Damião. Como ele reagirá ao matrimônio? Já vi jogadores falindo por causa de um casamento mal assestado, assim como vi outros se tornando muito maiores do que eram graças a uma esposa atenta e amorosa. O que se dará com Damião? Já marcou um gol pós-enlace. Marcará outros? Não parará mais de marcar, enquanto durar a felicidade conjugal?

Didi seguiu casado e feliz até o fim da vida. Quando morreu, aos 72 anos de idade, Guiomar murchou de tristeza e morreu um mês e meio depois. Belo exemplo de casal de sucesso. Embora haja quem diga que a história da aliança fosse um golpe do Didi.

Teria sido uma trama armada para justificar a perda da aliança em outras circunstâncias, menos explicáveis. Se foi isso mesmo, não diminui o amor que ele tinha por Guiomar, mas aumenta sua capacidade criativa. Gênio. Didi era capaz de lances de gênio.


28 de janeiro de 2012 | N° 16961
CLÁUDIA LAITANO


Invisibilidade pública

“Se está no elevador, a pessoa te vê e não entra. Se está no refeitório, não senta na mesma mesa. Não chama pelo nome, não pede por favor.”

Parece África do Sul durante o apartheid, mas é Brasil, 2012. O depoimento é de uma mulher que trabalha na limpeza de um hospital na capital paulista. O simples gesto de colocar o uniforme, conta ela, já faz com que comece a ser vista de forma diferente – ou melhor, não vista.

Uma pesquisa divulgada esta semana pelo Dieese sobre trabalhadores de limpeza da cidade de São Paulo ouviu 1.851 coletores de lixo, varredores, auxiliares de limpeza e jardineiros.

De acordo com o levantamento, um em cada quatro entrevistados diz já ter sofrido discriminação relativa ao trabalho. A maior queixa: serem tratados como cidadãos de segunda categoria, indignos da cortesia mínima de um bom-dia, de um obrigado, de um por favor.

O estudo ratifica o que o psicólogo Fernando Braga da Costa já havia demonstrado no livro Homens Invisíveis, publicado em 2004, sobre sua experiência convivendo com os garis da USP. No livro, o psicólogo desenvolve a tese da “invisibilidade pública” de profissionais como faxineiros, ascensoristas, empacotadores, garis.

A invisibilidade dos trabalhadores da limpeza é talvez apenas a mais evidente em um país culturalmente habituado a naturalizar a desigualdade de tratamento – ajustado, em muitos casos, para operar conforme a classe social do interlocutor.

Ignorar o porteiro ou tratar a faxineira como se fosse um eletrodoméstico parece tão natural quanto rir da piada sem graça do chefe ou atender um cliente conforme a roupa que ele está usando.

É uma espécie de lei não escrita da selva social brasileira: para cima tudo, para baixo justiça. Se não dá para dizer que somos os únicos do mundo a agir assim, é preciso reconhecer que, em muitos países, o trabalho é respeitado como um valor em si, independentemente do tamanho do contracheque ou do status social da função.

Homens e mulheres invisíveis do Brasil dependem de ônibus, fazem fila no posto de saúde, estudam em escolas em que os professores fazem greve. Quando viram notícia – porque desabou a casa onde moravam ou invadiram o terreno onde construíram suas casas –, parecem personagens de uma tragédia que se desenrola em um país distante, onde a gente não vai nem a passeio.

A literatura, que poderia dar rosto e voz a esses personagens, tem se ocupado cada vez menos deles. São poucos os livros que nos levam a observar a paisagem brasileira desde uma outra perspectiva: do lado de dentro do ônibus lotado, do lado de cima da maca estacionada no corredor do hospital, do lado de quem nem sempre é brindado com a gentileza de um bom-dia quando está vestindo um uniforme ou fazendo um trabalho braçal.

Para quem sente falta deste ponto de vista, sugiro a leitura de Passageiro do Fim do Dia, do escritor Rubens Figueiredo. Um romance obrigatório, narrado desde a perspectiva da maioria invisível de um país que só enxerga o que quer ver.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012


Jaime cimenti

Livros impressos, dinossauros, eBooks, iPads, etc

Faz uns 36 anos que comecei a resenhar livros na imprensa. Portanto, se não aprendi, não posso botar a culpa no tempo. Gostar de livros impressos. Tem horas que me sinto um dinossauro no meio de um salão de um museu (de Nova Iorque, História Natural, de preferência), meio assim feliz e soterrado em meio a milhares de volumes, esses objetos seculares, de design imbatível e fascínio infinito.

Fico pensando se não seria melhor assinar um coluna sobre viagens turísticas espirituais ou hábitos na internet, sei lá. Há uns 20 anos um ex-editor de PA me disse na Feira do Livro que o livro tinha morrido, que seria tudo eletrônico e tal.

Ele tornou-se escritor e vive - e bem - de livros impressos. Sim, eBooks, iPads e outros meios estão aí, fazendo algum ou muito sucesso, mas é bom lembrar que conforme a Câmara Brasileira do Livro o número de exemplares vendidos aumentou em 13% em 2011, que há tendência de queda no preço e que, assim, o número de exemplares e leitores tende a aumentar. Coisas boas. Tomara! Acho que aí esta coluna de Livros do JC, que vai fazer 18 anos de circulação semanal e ininterrupta, vai seguir por mais uma data.

Aí o titio aqui se aposenta, se jubila en Punta del Este, ou, quem sabe, se torna colunista de eBooks ou se reinventa com algum outro lance do momento. Segundo matéria simpática do New York Times de 20 de novembro de 2011, especialistas e famílias que opinaram sobre livros acham que o papel tem ainda algumas vantagens sobre as mídias digitais.

Na matéria o executivo Mateus Thomson, 38 anos, de um site de mídia social, acha que o filho de 5 vai aprender a ler mais rápido com o livro e que, de noite, deve haver hora de leitura de papel.

Para ele os sinos e assobios de um iPad se tornam mais uma distração e ele pensa que se o menino ficar só com o tablet, acabará se distraindo e brincando com jogos o tempo todo, sem a concentração indispensável aquela da leitura. É isso. Concordo, o livro segue como meio mais completo, abrangente e importante para a difusão de conhecimento e acho que a coluna e eu estamos garantidos por mais uns tempos, se os queridos leitores me derem esse prazer. Topo.

Prometo seguir defendendo os impressos. De mais a mais, não custa lembrar, mesmo e principalmente em causa própria, que dinossauros até que são uns bichos simpáticos e legais, especialmente quando estão bem alimentados, calmos, silenciosos e imersos em alguma leitura gostosa. (Jaime Cimenti)